Chilenos votam em plebiscito polêmico para decidir futuro da Constituição herdada da ditadura de Pinochet ou adotar texto conservador.

Hoje, domingo, os chilenos começaram a votar em um plebiscito para determinar o futuro da Constituição criticada que herdaram da ditadura de Augusto Pinochet ou escolher um novo texto ainda mais conservador, dando continuidade ao processo político que começou há quatro anos. Mais de 15 milhões de chilenos estão habilitados a votar “a favor” ou “contra” uma proposta de Constituição elaborada por um órgão dominado pelo ultraconservador Partido Republicano. Este texto reduz o peso do Estado, limita alguns direitos e endurece o tratamento aos migrantes em situação irregular.

As pesquisas, que omitiram a divulgação nas duas últimas semanas antes da eleição, indicam uma vitória da opção “contra”, embora uma quantidade considerável de indecisos ainda possa influenciar o resultado. Muitos eleitores expressaram desinteresse e ceticismo em relação à votação, como Paula, técnica de enfermagem de 24 anos, que disse à AFP: “Não estou muito interessada na escolha. Vou votar porque é obrigatório, mas sei que não vai dar em nada, vai acabar tudo igual”.

As mesas de votação abriram em todo o país às 8h locais e funcionarão até as 16h, com previsão de contagem rápida dos votos. O plebiscito vem após 80% dos chilenos decidirem em novembro de 2020 iniciar um processo para mudar a Constituição vigente desde a era Pinochet, em resposta aos protestos maciços e violentos ocorridos em outubro de 2019.

Este processo resultou em uma Assembleia Constituinte comandada pela esquerda, que redigiu um texto progressista. No entanto, a população rejeitou a proposta por 62%, o que levou a um novo processo liderado pelo Partido Republicano, que elaborou um texto próprio. No entanto, a descrença dos cidadãos em relação ao processo constitucional é clara, um fenômeno evidenciado pela advogada Carolina Lefort, de 42 anos, que afirmou: “Há um esgotamento dos cidadãos em relação ao processo constitucional, onde nem no primeiro processo como neste não se chegou a um consenso sobre o que queriam”.

Questões como o aumento dos crimes violentos e uma economia que não se recupera após um forte ajuste para conter a inflação concentraram a atenção da população, que antes saiu às ruas para pedir justiça social. Agora, os habitantes buscam mais policiamento, ordem e segurança.

A reforma da Constituição de Pinochet era uma aspiração antiga da esquerda chilena, mas confrontada com uma proposta ainda mais conservadora, os partidos de esquerda chilenos fazem um apelo ao voto “contra”. Carolina Leitão, porta-voz da campanha contra o novo texto conservador, disse: “Prefiro voltar ao ponto de partida, que não é 100% a Constituição da ditadura, a ter um texto ruim que prejudica todos os chilenos e que nos divide profundamente”.

O Chile enfrenta um momento crucial em sua história política, refletindo um país que passou por transformações sociais e econômicas significativas nos últimos anos e ainda busca garantir um caminho democrático e inclusivo para o futuro.

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