Os custos que recaem sobre as famílias podem chegar a 81,3%, dependendo do estágio da demência. Além disso, o relatório aponta que o cuidado de uma pessoa com demência envolve em média 10 horas e 12 minutos diários de dedicação por parte da pessoa responsável pelo cuidado.
Essa realidade, segundo a médica Cleusa Ferri, psiquiatra e epidemiologista coordenadora do Projeto Renade no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, exige uma abordagem mais abrangente, que considere não só o paciente, mas também o cuidador. Ferri enfatizou a necessidade de mais serviços de qualidade que atendam às necessidades tanto da pessoa com demência quanto de seus familiares.
A pesquisa revelou que dentre as 140 pessoas com demência entrevistadas, 45% dos cuidadores apresentavam sintomas de ansiedade e depressão. A sobrecarga relativa ao cuidado foi apontada em 71,4% dos casos, enquanto 83,6% exerciam o cuidado de maneira informal e sem remuneração.
Além disso, o estudo aponta que a maioria dos cuidadores de familiares com demência são mulheres, com 86% do total. Essa realidade reflete uma cultura arraigada de que as mulheres são responsáveis pelo cuidado familiar, segundo Ferri.
O Relatório Nacional sobre Demência também apontou para o subdiagnóstico dessa condição no Brasil. Estima-se que o país tenha cerca de 2 milhões de pessoas com demência, sendo que 80% delas não estão diagnosticadas. Cleusa Ferri ressaltou a necessidade de melhoria nas políticas públicas e no conhecimento da população sobre a demência.
Portanto, fica evidente a necessidade urgente de um olhar mais atento para a questão da demência, não apenas no diagnóstico e tratamento dos pacientes, mas também no cuidado e apoio às famílias que enfrentam os desafios desse cenário. É preciso mais investimento em serviços de qualidade, mais atenção à saúde mental dos cuidadores e mais conscientização sobre a demência. A invisibilidade dessa condição e as desigualdades sociais também são questões que merecem destaque e esforços para superação.