As projeções econômicas do país são todas negativas. A Argentina terá recessão, com economistas estimando queda do PIB em torno de 3%; a inflação deve disparar, provocando, inevitavelmente, um aumento da pobreza, atualmente de 41% da população; e trabalhadores perderão poder aquisitivo, porque os salários não serão reajustados na mesma velocidade. A classe média argentina enfrentará um novo processo de empobrecimento, e a moeda nacional, o peso, sofrerá permanentes desvalorizações. O recém-empossado presidente Javier Milei anunciou o panorama para 2024 antes mesmo de assumir o poder, evidenciando que seu primeiro ano de governo seria uma montanha-russa.
A incerteza iminente gerou pânico e empatia com o presidente em alguns setores da sociedade argentina, que compartilham a sensação de que era preciso uma mudança. Contudo, algumas estratégias comunicacionais de Milei também geraram críticas, como o envio de um megadecreto ao Parlamento para reformar mais de 300 leis. Ações como essa culminaram na desaprovação de 56% dos argentinos, que consideraram o ato um atropelo do Congresso. O panorama político também se mostra desafiador para o governo, visto que o partido do chefe de Estado, A Liberdade Avança, tem a terceira minoria no Parlamento e necessitará de articulações para evitar que o megadecreto seja derrubado no Legislativo.
Além dos desafios políticos e econômicos, o governo Milei deverá iniciar uma batalha cultural em defesa de bandeiras que, em alguns casos, vão na contramão de leis que a Argentina aprovou nos últimos anos. Uma delas legalizou o aborto, algo no qual o presidente e seus principais colaboradores se opõem. Outro ponto sensível é a discussão sobre a última ditadura militar (1976-1983), onde Milei propõe uma visão mais crítica das ações do governo na época, revelando um embate de visões sobre a história do país.
Em resumo, o novo governo argentino entra em 2024 diante de enormes desafios econômicos, políticos e culturais, prometendo um período turbulento e de incertezas para a nação.