Economia argentina em alerta: cortes no orçamento ameaçam pesquisas científicas e aumentam incerteza para 2024.

Em sua última reunião anual de diretoria, autoridades do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) argentino, referência regional e global, comunicaram que o orçamento previsto para 2024 será o mesmo de 2023, num país que fechará o ano com inflação mensal de dois dígitos e caminha para ter uma das taxas de inflação anuais mais altas do mundo — este ano chegará a quase 200%. Isso significa, esclareceram os gerentes do Conicet, que o conselho só conta com recursos para pagar os salários de seus pesquisadores até junho do ano que vem. A segunda metade do ano é incerta, gerando uma série de incertezas que marcarão o próximo ano dos argentinos.

As projeções econômicas do país são todas negativas. A Argentina terá recessão, com economistas estimando queda do PIB em torno de 3%; a inflação deve disparar, provocando, inevitavelmente, um aumento da pobreza, atualmente de 41% da população; e trabalhadores perderão poder aquisitivo, porque os salários não serão reajustados na mesma velocidade. A classe média argentina enfrentará um novo processo de empobrecimento, e a moeda nacional, o peso, sofrerá permanentes desvalorizações. O recém-empossado presidente Javier Milei anunciou o panorama para 2024 antes mesmo de assumir o poder, evidenciando que seu primeiro ano de governo seria uma montanha-russa.

A incerteza iminente gerou pânico e empatia com o presidente em alguns setores da sociedade argentina, que compartilham a sensação de que era preciso uma mudança. Contudo, algumas estratégias comunicacionais de Milei também geraram críticas, como o envio de um megadecreto ao Parlamento para reformar mais de 300 leis. Ações como essa culminaram na desaprovação de 56% dos argentinos, que consideraram o ato um atropelo do Congresso. O panorama político também se mostra desafiador para o governo, visto que o partido do chefe de Estado, A Liberdade Avança, tem a terceira minoria no Parlamento e necessitará de articulações para evitar que o megadecreto seja derrubado no Legislativo.

Além dos desafios políticos e econômicos, o governo Milei deverá iniciar uma batalha cultural em defesa de bandeiras que, em alguns casos, vão na contramão de leis que a Argentina aprovou nos últimos anos. Uma delas legalizou o aborto, algo no qual o presidente e seus principais colaboradores se opõem. Outro ponto sensível é a discussão sobre a última ditadura militar (1976-1983), onde Milei propõe uma visão mais crítica das ações do governo na época, revelando um embate de visões sobre a história do país.

Em resumo, o novo governo argentino entra em 2024 diante de enormes desafios econômicos, políticos e culturais, prometendo um período turbulento e de incertezas para a nação.

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