Guardião do Douma: O som dos tambores nigerinos ressoa no esquecimento da juventude

Em meio a uma choupana escura, ecoam batidas graves e agudas, ditando um chamado em língua hauçá: é a forma que um músico nigerino encontrou para enviar um “telegrama” tradicional, utilizando os toques de tambor. Oumarou Adamou, conhecido como “Maidouma”, é um dos músicos mais famosos do Níger e mestre do douma, um instrumento de percussão típico do patrimônio hauçá. Durante uma demonstração, Adamou veste seu boubou azul celeste e volta a ser o “Maidouma”, tocando seus instrumentos de percussão favoritos com entusiasmo.

Porém, poucos compreendem mais essa língua codificada. A juventude nigerina está imersa no universo da música eletrônica e do rap, esquecendo-se dos conhecimentos ancestrais. O medo do desaparecimento dos instrumentos, ritmos e significados ancestrais é uma constante para os mestres da música tradicional nigerina, que veem a elite da música se envelhecendo e os instrumentos correndo o risco de desaparecer com eles.

O cenário fica ainda mais desafiador devido à falta de financiamento para projetos de preservação em um país considerado um dos mais pobres do mundo, onde 70% da população tem menos de 25 anos. As tensões diplomáticas com o Ocidente pós-golpe militar em 26 de julho são mais um empecilho para a preservação cultural, já que os projetos de preservação contavam com financiamento externo.

Além disso, a vocação musical é refreada pela rigidez da sociedade nigerina e um sistema de castas que, no passado, reservava a interpretação musical aos griots, que hoje têm uma imagem pouco favorável. A falta de abertura da música tradicional nigerina às influências mundiais e a modernização também são apontadas como razões para a difícil preservação.

Para tentar contornar esse cenário desafiador, artistas e educadores como Mahamane Sani organizam oficinas para jovens das áreas carentes, onde se ensina a tocar e fabricar instrumentos tradicionais. Afinal, a preservação da música tradicional nigerina depende do interesse e engajamento da juventude, que não tem interesse em seguir a tradição musical e tem atratividade pelas oportunidades oferecidas pelos instrumentos modernos. A mensagem de preservação ecoa entre os jovens, mas apenas o futuro dirá se as batidas do tambor tradicional resistirão ao som da modernidade.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo