Rebeldes houthis lançam míssil antinavio no Iêmen em retaliação a ataques americanos e britânicos

Os rebeldes Houthis, no Iêmen, lançaram um míssil balístico antinavio nesta sexta-feira, informou um general americano. Esse ataque aconteceu em retaliação aos ataques americanos e britânicos contra posições do grupo, apoiado pelo Irã, lançados na madrugada deste mesmo dia (noite de quinta no Brasil). Em discurso na quinta-feira, o líder do grupo prometeu que a ofensiva não ficaria “sem resposta”.

De acordo com o diretor do Estado-Maior Conjunto, tenente-general Douglas Sims, ao menos um míssil foi disparado em retaliação, acrescentando que o míssil não atingiu nenhum navio. Sims ainda avaliou a retórica do grupo como bastante forte e elevada, esperando que tentassem algum tipo de represália.

A ação das potências ocidentais nesta quinta-feira foi uma resposta às agressões da facção iemenita, apoiada pelo Irã, contra embarcações no Mar Vermelho, uma importante rota marítima por onde passam 12% do comércio global. Os rebeldes alegam que os ataques contra embarcações e alvos israelenses ocorrem em apoio ao Hamas, em guerra com o Estado judeu desde o dia 7 de outubro. Desde então, diversas empresas de navegação passaram a evitar a rota e dar a volta pelo continente africano, aumentando os custos de frete e seguro marítimo.

Segundo Sims, os norte-americanos e britânicos atacaram quase 30 alvos em mais de 150 incursões. Os ataques atingiram mais de uma dúzia de alvos Houthis, incluindo sistemas de radar e locais de armazenamento e lançamento de drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro, como os que vinham sendo usados pelo grupo no Mar Vermelho.

Esse é o primeiro ataque direto dos EUA contra a milícia xiita dentro do território iemenita desde o início do conflito. A ação foi promovida pela coalizão Ocidental, formada nas últimas semanas para garantir a livre circulação de navios comerciais no Mar Vermelho, em meio a uma forte tensão no Oriente Médio.

Os Houthis integram o “eixo de resistência” financiado pelo Irã no Oriente Médio. Apesar de não representarem o governo, eles têm avançado seu controle sob mais áreas do país em meio à guerra civil contra uma coalizão apoiada pela Arábia Saudita, rival histórico da República Islâmica, mas que retomou as relações diplomáticas com Teerã no ano passado por intermédio da China.

Durante uma viagem de campanha eleitoral, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que “não acredita” que os ataques às posições rebeldes tenham causado “vítimas civis”, o que classificou como “uma razão para o sucesso”.

Abdul Malek al-Houthi, líder dos Houthi, disse em discurso na quinta-feira que qualquer ataque americano ao Iêmen “não ficará sem resposta”, ameaçando uma reação ainda maior do que a que está sendo promovida no Mar Vermelho. Na visão de especialistas, o ataque era exatamente o que os Houthis queriam e, por isso, é improvável que os ataques parem a campanha de ações do grupo contra navios comerciais, já que a milícia há tempos indicava esperar um confronto com Washington.

Yahya Sarea, porta-voz militar da milícia, informou que um total de 73 bombardeios atingiram a capital iemenita, Sana, e quatro outras regiões, matando cinco combatentes e ferindo outros seis. Horas após os bombardeios, Mohammed al-Bukhaiti, um membro graduado do grupo, disse que os EUA e o Reino Unido perceberiam em breve que se engajaram na “maior loucura de sua História”.

O Comitê Político Supremo dos Houthis disse que os ataques “violaram todas as leis internacionais” e alertaram que “todos os interesses americanos e britânicos se tornaram alvos legítimos” para a milícia. Essa ameaça velada parece se referir às instalações militares americanas em países vizinhos, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, onde os Houthis lançaram ataques bem-sucedidos no passado.

Os EUA lançaram cerca de 400 ataques aéreos no Iêmen desde 2002, de acordo com o Conselho de Relações Exteriores do país. O governo americano tem buscado evitar um conflito direto desde a crise em Gaza, temendo uma escalada regional. Na semana passada, o porta-voz do Conselho de Segurança dos EUA, John Kirby, disse que o país “não está a procura de um conflito com os Houthis”.

O movimento Houthi, também conhecido como Ansarallah (Apoiadores de Deus), surgiu na década de 1990 e foi apoiado pelo primeiro presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, após a unificação do Iêmen do Norte e do Iêmen do Sul em 1990. Após a morte do líder do grupo, Hussein al-Houthi, em setembro de 2004, pelas forças iemenitas, o braço militar continuou vivo e cresceu à medida que mais combatentes se juntaram à causa.

As capacidades militares dos rebeldes foram aumentando, culminando na invasão da capital em setembro de 2014. Analistas atribuem essa expansão ao apoio iraniano e, em 2015, o grupo chegou a vencer efetivamente uma guerra contra uma coalizão militar liderada por Riade, após derrubar o presidente interino Abd-Rabbu Mansour Hadi. Atualmente, a milícia xiita controla não só a capital, mas também grande parte do norte do país.

A guerra, que pende por quase uma década, já vitimou direta e indiretamente milhares de pessoas e pôs milhões sob insegurança alimentar.

Apesar dos esforços da coalizão Ocidental e dos EUA, a situação no Iêmen permanece tensa, e o conflito deve prosseguir, trazendo ainda mais instabilidade e sofrimento para a população da região. A expectativa é que novos desdobramentos ocorram nas próximas semanas. A guerra civil no país está longe de ter um fim, e a violência tende a se intensificar. A diplomacia e as negociações de paz são as principais expectativas para resolução do conflito, mas até agora, nenhum avanço significativo foi alcançado. Portanto, é necessário um esforço conjunto da comunidade internacional para conter a escalada da violência e buscar pacificar a região, visando o bem-estar e a segurança das populações afetadas.

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