Evidência genética indica que sífilis pode ter se originado no Novo Mundo, reforçando hipótese de transmissão da doença para o Velho Mundo

A descoberta de um estudo genético realizado por um grupo de pesquisadores europeus, liderado pela Universidade de São Paulo (USP), reforça a hipótese de que a sífilis pode ter surgido no Novo Mundo, indo posteriormente para o Velho Mundo. O estudo teve como base a identificação de DNA da bactéria causadora da doença, a Treponema pallidum, em ossos com mais de 2.000 anos encontrados em um sítio arqueológico em Santa Catarina.

Essa descoberta representa um avanço significativo para a ciência, uma vez que, até então, não existia uma prova direta de que a Treponema já estava presente nas Américas. Os primeiros registros históricos de sífilis na Europa datam do final do século 15, logo após a chegada de Cristóvão Colombo à Espanha. Dessa forma, os pesquisadores já consideravam a hipótese de que a doença tenha emergido no Novo Mundo.

A pesquisa teve início com a exploração de um sítio arqueológico às margens da Lagoa do Camacho, em Santa Catarina, considerado um sambaqui, uma formação criada a partir da deposição humana de materiais orgânicos e calcários ao longo de séculos. A descoberta evidencia que, há 2 mil anos, as pessoas que foram sepultadas no local já eram afetadas pela sífilis.

Além disso, o estudo utilizou uma técnica de análise chamada relógio molecular para comparar o DNA da bactéria achada no sítio arqueológico com amostras mais recentes. Com isso, os cientistas conseguiram uma melhor compreensão da origem e da evolução da sífilis e de outras doenças causadas pela Treponema.

Porém, a descoberta da Treponema em um sítio arqueológico brasileiro ainda gera dúvidas. A variante da bactéria encontrada em solo catarinense não era aquela que causa a sífilis comum, uma versão não venérea. O estudo mostra que as duas formas de sífilis já estavam bem diferenciadas no século 15, mas não é possível afirmar se a família de doenças surgiu antes ou depois da chegada do primeiro humano às Américas.

Esse achado também pode contribuir para futuras aplicações médicas no tratamento e na prevenção da sífilis. A doença, que pode evoluir de um cancro genital para formas graves afetando o sistema nervoso e diversos órgãos, possui tratamento, no entanto, é importante entender como esse microorganismo evoluiu em contato com os humanos para combatê-lo no futuro.

Nesse sentido, a descoberta do estudo reforça a importância de pesquisas genéticas para o desenvolvimento de estratégias de combate a doenças infecciosas e para o aprimoramento do diagnóstico e do tratamento desses problemas de saúde pública.

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