Mutação de microrganismo resistentes a antibióticos não ocorre apenas por uso em animais, mostra estudo da Universidade de Nottingham.

A resistência antimicrobiana (RAM) – quando microrganismos deixam de ser suscetíveis a medicamentos como antibióticos – é um dos maiores desafios de saúde pública em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Todo o setor da pecuária, devido ao uso extensivo de antimicrobianos nos animais para reduzir as perdas de produção, é um fator crítico que contribui para a propagação dessas bactérias resistentes, que impactam tanto animais quanto humanos.

Um novo estudo agora revela que não é apenas o uso generalizado de medicamentos em animais que tem motivado as mutações nos microrganismos que os tornam resistentes.

Cientistas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, descobriram que bactérias de diferentes espécies que coexistem no mesmo ambiente, como no intestino de um mesmo animal, conseguem compartilhar um material genético entre elas associado à resistência aos antibióticos.

O estudo liderado por Tania Dottorini, pesquisadora da Escola de Medicina e Ciência Veterinária da universidade, mostrou que essas bactérias no mesmo ambiente e, mais importante, no mesmo hospedeiro, podem coevoluir e partilhar o seu genoma, contribuindo assim para a propagação da RAM. Compreender até que ponto estas bactérias podem coevoluir e partilhar o seu genoma ajuda no desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais eficazes para combater a RAM.

A equipe de cientistas coletou 661 amostras das bactérias E. coli e Salmonella enterica isoladas de frangos de 10 granjas diferentes na China, durante um período de 2,5 anos, e conduziu uma ampla análise genômica dos microrganismos coletados. Eles revelaram que a E. coli e Salmonella enterica que viviam no intestino da mesma galinha apresentavam um alto compartilhamento de material genético ligado à resistência aos medicamentos, em comparação com amostras das bactérias cultivadas em laboratório.

No geral, o estudo destaca que a investigação de espécies bacterianas individualmente pode não fornecer um quadro suficientemente abrangente dos mecanismos subjacentes à insurgência e propagação da RAM na pecuária, potencialmente subestimando a ameaça à saúde humana.

A resistência antimicrobiana está cada vez mais preocupando as autoridades de saúde. A OMS alerta que a exposição repetida dos microrganismos aos medicamentos, devido ao uso inadequado ou desnecessário, contribui para a resistência. A análise publicada no periódico The Lancet no ano passado mostrou que as bactérias resistentes foram responsáveis diretamente pela morte de 1,27 milhão de pessoas em 2019, número maior do que causado por doenças como malária e AIDS. Indiretamente, a RAM foi associada a 4,95 milhões de vidas perdidas.

Portanto, esses resultados destacam a necessidade urgente de adotar medidas eficazes para reduzir a resistência antimicrobiana e desenvolver tratamentos mais eficazes para combater este grave problema de saúde pública.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo