Jovem com hanseníase relata diagnóstico tardio e preconceito no tratamento da doença, em entrevista à rádio Nacional.

O Brasil diagnosticou pelo menos 19.219 novos casos de hanseníase entre janeiro e novembro de 2023. Esse número é 5% superior ao total de notificações registradas no mesmo período de 2022. O estado de Mato Grosso segue liderando o ranking das unidades federativas com maiores taxas de detecção da doença. Até o fim de novembro, o total de 3.927 novos casos no estado já superava em 76% as 2.229 ocorrências do mesmo período de 2022. Em seguida vem o Maranhão, com 2.028 notificações, um resultado quase 8% inferior aos 2.196 registros anteriores.

A hanseníase é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium Leprae, também conhecida como bacilo de Hansen, em homenagem ao médico e bacteriologista norueguês Gerhard Hansen, que descobriu a doença em 1873. Os sintomas iniciais são manchas na pele, resultando em lesões e perda de sensibilidade na área afetada. Também pode acontecer fraqueza muscular e sensação de formigamento nas mãos e nos pés. Quando os casos não são tratados no início dos sinais, a doença pode causar sequelas progressivas e permanentes, incluindo deformidades e mutilações, redução da mobilidade dos membros e até cegueira.

João Victor Pacheco, 28 anos, descobriu que tinha hanseníase aos 17 anos, quando trabalhava como padeiro. Ele começou a ter queimaduras, mas não sentia a dor. A diminuição ou perda da sensibilidade térmica é um dos sintomas da doença, e ele desde então iniciou sua luta, o ativismo.

O jovem, que mora em Cuiabá, capital mato-grossense, relata a dificuldade em buscar o diagnóstico da doença e a falta de conhecimento dos profissionais de saúde acerca da hanseníase. Ele está no terceiro tratamento, tendo iniciado em 2014, e reforça a importância de examinar familiares para evitar reinfectar-se. Pacheco também é vítima do preconceito em relação à hanseníase, mas afirma que não sofre, mesmo sabendo que acontece.

Marly Barbosa de Araújo, técnica em nutrição, também teve dificuldades para diagnosticar a hanseníase devido à falta de reconhecimento dos profissionais de saúde acerca da doença. Moradora de uma área nobre na capital federal, ela foi vítima de “preconceito ao contrário” dos profissionais de saúde, que não pensaram em hanseníase pelo fato de ela morar numa quadra de classe média alta em Brasília.

A falta de conhecimento e o preconceito em relação à hanseníase mostram que a doença é um problema que afeta não só as pessoas contempladas pelo Sistema Único de Saúde, mas também aquelas que moram em áreas consideradas nobres. A hanseníase é uma doença que não escolhe classe social, e é importante que haja uma maior conscientização e combate ao preconceito em relação a essa enfermidade.

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