Mulheres que desafiaram a ditadura compartilham suas histórias em roda de conversa no Memorial da Resistência em SP

No último sábado (3), o Memorial da Resistência, em São Paulo, promoveu uma roda de conversa com mulheres que desafiaram a repressão durante a ditadura militar no Brasil. O evento contou com relatos e experiências de mulheres que enfrentaram o autoritarismo e a imposição de papéis de gênero, incluindo a militante Lia Katz.

Lia Katz, que na década de 60 lutava pela democracia, participou de reuniões do movimento feminista, juntamente com a amiga Rita D. Luca. Em 1975, o engajamento feminista foi fortalecido com a comemoração do Ano Internacional da Mulher e a realização da primeira edição da Conferência Mundial da Mulher, que tinha como lema “Igualdade, Desenvolvimento e Paz”. Durante esse período, jornais feministas como Nós Mulheres, Mulherio e Brasil Mulher ganharam destaque na imprensa.

O ano de 1975 também marcou o retorno de Lia Katz ao Brasil, após cinco anos de exílio na França. Nesse período, a militante atuou na área acadêmica e manteve-se engajada na luta pela democracia em seu país de origem. Ela relembra que durante o exílio, teve a oportunidade de refletir sobre os acontecimentos no Brasil, o que contribuiu para uma consciência mais elaborada de sua realidade.

Outro ponto destacado por Lia Katz foi a presença de uma ala de companheiros homens que não demonstravam interesse nas pautas de defesa dos direitos das mulheres. Segundo ela, esses homens afirmavam que os movimentos deveriam se concentrar na luta social e na implementação do socialismo, relegando as questões de gênero a um segundo plano.

A militante também apontou a importância dos jornais feministas na disseminação de pautas relacionadas aos direitos das mulheres, como o acesso a creches e os desafios enfrentados pelas mulheres trabalhadoras. Ela ressaltou que seu grupo entrevistava mulheres negras, mas reconheceu que o debate sobre o racismo estrutural na sociedade ainda era incipiente naquela ocasião.

Além disso, Lia Katz mencionou as dificuldades financeiras enfrentadas pelas redações dos jornais feministas, destacando a contribuição da cantora Elis Regina, que chegou a patrocinar números desses jornais. Quanto à censura, a militante afirmou que a memória era vaga, mas lembrou que a redação do jornal Versus ficava em um porão e não seguia o padrão de censura mais ostensivo presente em outros veículos de imprensa.

Dessa forma, o evento promovido pelo Memorial da Resistência propiciou uma reflexão importante sobre o papel das mulheres na resistência à ditadura militar e na luta pelos direitos femininos no Brasil. A história de Lia Katz e de outras mulheres que desafiaram a repressão merece ser preservada e divulgada como exemplo de coragem e determinação em tempos de adversidade.

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