Polícia russa deteve ao menos 20 jornalistas durante protesto em Moscou; manifestação foi organizada por mulheres de soldados na Ucrânia.

A polícia russa deteve pelo menos 20 jornalistas durante um protesto em Moscou neste sábado (3). A manifestação, organizada por mulheres de soldados que estão combatendo na Ucrânia, exigia o retorno de seus maridos. Um cinegrafista da AFP detido durante a mobilização informou que cerca de 20 a 25 profissionais da imprensa, incluindo repórteres estrangeiros, foram conduzidos para a delegacia.

Nas últimas semanas, as mulheres dos soldados enviados para combate na Ucrânia têm se reunido regularmente sob os muros do Kremlin como forma de protesto. A revolta dos familiares dos reservistas é um assunto delicado para as autoridades, que até agora tinham evitado reprimir o grupo. Antes, em outros protestos semelhantes em Moscou, a polícia não costumava se manifestar, embora outras contestações sejam reprimidas.

O ativismo das mulheres dos soldados tem sido amplamente ignorado pelos meios de comunicação estatais russos. O governo da Rússia busca apresentar uma imagem de unidade em torno de Vladimir Putin antes das eleições presidenciais de março. Segundo Putin, 244 mil soldados lutam atualmente na Ucrânia, de um contingente total de 617 mil.

Nessa quarta-feira (31), a Duma (Câmara baixa do Parlamento) aprovou uma lei que permite ao Estado confiscar os bens de pessoas condenadas por criticar o Exército e a ofensiva militar na Ucrânia, intensificando a repressão do Kremlin contra a dissidência em relação ao presidente. A lei autoriza as autoridades a tirar dinheiro, propriedades e bens daqueles condenados por espalhar “fake news” sobre o Exército russo. Segundo Putin, é necessário punir “canalhas, incluindo figuras culturais e [pessoas] que apoiam nazistas e jogam sujeira em nosso país, soldados e oficiais envolvidos na guerra. Qualquer um que tente destruir e trair a Rússia”.

A medida se soma a outra aprovada após a invasão russa, em fevereiro de 2022, que impôs sentenças de até 15 anos de prisão e multas por “desacreditar” o Exército. Oponentes da guerra foram presos ou enviados ao exílio em meio à mais dura repressão desde a era soviética. O regulamento também visa permitir que honorários recebidos por jornalistas que escrevem “informações falsas” sobre a guerra sejam confiscados.

As mulheres dos soldados na Ucrânia continuam a lutar pelos direitos de seus maridos e a enfrentar a repressão das autoridades russas, que se intensificaram com a aprovação de leis que visam calar as vozes contrárias à narrativa oficial do Kremlin. O cenário indica a continuidade de um ambiente de tensão e repressão na Rússia, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia e das eleições presidenciais previstas para março.

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