Dinheiro de Wall Street investido em países autocráticos: como mudar essa realidade? Opinião pública é chave, afirmam especialistas.

“Verdeente do capital de Wall Street é investido em países autocráticos”. É viável alterar isso? De acordo com especialistas, sim, por meio de indicadores de referência indexados à qualidade da democracia, mas a opinião pública também deve exercer pressão, como aconteceu com os bônus verdes.

Para compreender esse fenômeno, basta observar um exemplo: os fundos de pensão, em sua maioria, financiam administradores de ativos que seguem uma série de pontos de referência ao decidir onde alocar recursos, mas não necessariamente levam em consideração o fator democracia no momento de investir.

“Os indicadores são a principal forma pela qual, em geral, todos financiamos uma autocracia, embora não saibamos que estamos fazendo isso”, explica Marcos Buscaglia, fundador da Alberdi Partners e ex-analista de Wall Street, durante um debate em Washington, organizado pelo Diálogo Interamericano.

Philippe Bolopion, diretor-geral da TOBAM, uma empresa de gestão de ativos, admite que “grande parte do dinheiro de Wall Street é investido em países autocráticos”. Ele afirma que investidores nos Estados Unidos e na Europa estão injetando bilhões de dólares em países autocráticos e ajudando líderes autoritários a sobreviver e prosperar em alguns casos.

Os mercados são um organismo vivo e, como tal, se adaptam à sociedade. Há 20 anos, ninguém falava em ‘bônus verdes’ e estes surgiram por pressão social, destacam os especialistas. Já existem ativos cotados em bolsa que são favoráveis à democracia. Contudo, o maior passo ocorrerá quando os indicadores forem corrigidos a favor da democracia.

A solução pode vir, por exemplo, para países que emitem bônus em variáveis de qualidade democrática. Além disso, especialistas acreditam que é importante que os democratas considerem a autocracia como um fator de risco contra o qual devem proteger suas carteiras.

Não é apenas uma questão preto no branco. Muitas empresas de países democráticos têm grande parte de seus negócios na China ou com muitos provedores de lá. Portanto, minimizar a exposição é fundamental.

Além disso, se os países democráticos percebessem benefícios nos mercados globais, a América Latina poderia se beneficiar por ser segura do ponto de vista geopolítico. Países com democracias fortes, como Uruguai, Costa Rica e Chile, poderiam sair ganhando.

A questão que fica é: como medir a democracia? Os indicadores são importantes, mas não suficientes. Deve-se ter cuidado para não punir um país de forma desproporcional. Romina Bandura, especialista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, sugere a elaboração de um índice democrático nas agências de classificação financeira e que órgãos como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial levem em consideração o fator democracia ao conceder empréstimos.

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