Fuga de investidores da poupança afeta financiamento imobiliário e estimula busca por alternativas no mercado financeiro

A debandada de investidores da mais tradicional aplicação financeira do país está provocando reflexos em outros setores da economia. A caderneta de poupança, que por anos foi uma das mais tradicionais fontes de recursos para financiamentos de imóveis para a classe média, está sendo afetada pela retirada persistente de recursos. Somente em janeiro, os investidores retiraram da poupança R$ 20,1 bilhões a mais do que depositaram, e nos últimos três anos a aplicação acumulou uma perda de R$ 226,4 bilhões.

Atualmente, os bancos são obrigados a destinar 65% dos depósitos da poupança ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Isso cobre até 80% de imóveis de até R$ 1,5 milhão, com juros limitados a 12% ao ano. No entanto, a fuga de investidores tem afetado essa modalidade de financiamento, levando os bancos a destinarem menos dinheiro para empréstimos no SBPE. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o número de lançamentos de unidades imobiliárias pelo SBPE caiu entre 20% e 30% no ano passado.

O advogado Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário, destaca que o mercado imobiliário está passando por uma mudança estrutural devido à perda de interesse do investidor pela caderneta de poupança. Ele aponta que a migração para opções mais rentáveis no mercado financeiro, aliada aos baixos rendimentos da poupança, tem estimulado a fuga de investidores.

Com a diminuição dos recursos na poupança, os mutuários de classe média têm duas alternativas: financiamentos com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou por meio do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI). No entanto, as restrições e condições adicionais tornam essas modalidades menos atrativas para alguns compradores.

Apesar da estagnação do SBPE, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) aposta em um crescimento de 3% no crédito imobiliário em 2024, impulsionado pelos financiamentos do FGTS. A entidade projeta um volume de 320 mil unidades imobiliárias lançadas este ano, mas ainda não é possível afirmar se isso representa um crescimento em relação a 2023, devido ao fechamento das estatísticas do ano passado.

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