Hospitais do país se recusam a realizar aborto após 22 semanas, mesmo em casos previstos na lei, revela levantamento feito pelo GLOBO.

No Brasil, uma orientação do Ministério da Saúde está impactando a realização de abortos após as 22 semanas de gestação em hospitais pelo país. Levantamento realizado pelo jornal O GLOBO revelou que apenas dois hospitais, um em Recife (PE) e outro em Uberlândia (MG), estão realizando o procedimento nessa fase avançada da gravidez. A divergência de conduta entre os centros de saúde chamou a atenção após o Ministério suspender a norma, que é contestada por especialistas, para depois voltar atrás.

A questão levantada por especialistas é que a lei não estabelece um limite de semanas nos casos em que o aborto é permitido. Os casos previstos incluem situações em que não há outra forma de garantir a vida da gestante, gravidez resultante de estupro ou má formação do feto, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012. A advogada especialista em direito de família, Marcia Cutri, destaca que a nota técnica do governo Bolsonaro não tem respaldo legal e não pode se sobrepor ao Código Penal.

Além da questão jurídica, a falta de oferta do serviço no país e a demora na identificação da gravidez, principalmente em casos de estupro de menores, são desafios enfrentados pelas mulheres que buscam o procedimento. O médico Cristião Rosas, da Rede Médica pelo Direito de Decidir, ressalta que os protocolos da Organização Mundial de Saúde recomendam que não haja limite de tempo para a realização do aborto.

Um caso que ganhou destaque no país foi o de uma criança de 10 anos, vítima de estupro e que engravidou, tendo direito legal de interromper a gestação. No entanto, o hospital em Vitória se recusou a realizar o procedimento, forçando a família a levá-la até Recife para a realização do aborto. Mesmo assim, a menina foi constrangida por um médico. A falta de acesso ao aborto legal e a pressão de colegas da área sobre os médicos que realizam o procedimento também foram temas abordados.

A suspensão dos procedimentos de aborto legal em um hospital de São Paulo e a posterior cobrança do Ministério Público Federal à ministra da Saúde, Nísia Trindade, ressaltam a complexidade e os desafios enfrentados pelas mulheres que buscam interromper uma gravidez. A discussão legal e ética sobre o tema continua em pauta, enquanto a luta pelo acesso aos direitos reprodutivos das mulheres no Brasil segue em debate.

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