Repórter Recife – PE – Brasil

Xenofobia e discriminação atingem imigrantes haitianos e venezuelanos em abrigos no RS após enchentes: relatos preocupam Acnur

Os imigrantes haitianos e venezuelanos que estão sendo afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul têm enfrentado não apenas os desafios causados pela catástrofe climática, mas também casos de xenofobia e discriminação nos abrigos onde estão sendo acolhidos. De acordo com informações da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o estado gaúcho abriga cerca de 46 mil refugiados, a maioria deles venezuelanos e haitianos, seguidos pelos cubanos.

A presidente da Associação dos Haitianos no Brasil, Anne Milceus Bruneau, atua como voluntária em um abrigo na zona norte de Porto Alegre e relatou que a xenofobia tem sido um problema marcante, afetando tanto os haitianos quanto os venezuelanos. Ela mencionou que a comida servida no abrigo muitas vezes está crua, crianças e adultos não estão se alimentando adequadamente e que o acesso à água tem sido insuficiente.

Além disso, Anne denunciou que os imigrantes têm recebido apenas uma escova de dente por família e que os materiais de higiene, como desodorantes e fraldas, não estavam sendo distribuídos de forma igualitária entre os desabrigados. Ela destacou que, quando os imigrantes solicitam algo, às vezes são informados de que não há disponibilidade, mas quando representantes da associação intercedem, as doações são feitas.

A Acnur confirmou que os relatos de xenofobia não são casos isolados e que a situação tende a se agravar enquanto os espaços de acolhimento permanecerem improvisados. A oficial de proteção da Acnur, Silvia Sander, ressaltou a importância de garantir que os refugiados e imigrantes tenham o mesmo acesso aos recursos e direitos assegurados às pessoas brasileiras afetadas pela crise.

O estado gaúcho foi o que mais recebeu venezuelanos durante a Operação Acolhida do governo federal, com cerca de 21 mil imigrantes transferidos para a região. Até o momento, as fortes chuvas no RS obrigaram mais de 600 mil pessoas a deixarem suas casas, sendo mais de 70 mil abrigadas e outras 538 mil alojadas em residências de familiares ou amigos.

O Banco Mundial estima que, até 2050, cerca de 17,1 milhões de pessoas na América Latina serão deslocadas internamente devido às mudanças climáticas. A crise climática e humanitária que atinge o Rio Grande do Sul destaca a importância da solidariedade e do respeito aos direitos de todos os afetados, independentemente de nacionalidade ou origem.

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