Morte de presidente do Irã gera incerteza sobre mudanças no regime político sob liderança teocrática do aiatolá Ali Khamenei

O Irã se destaca como único no mundo por seu regime político de república islâmica, onde uma mistura de magistratura e teocracia xiita coexiste com instituições republicanas, eleições periódicas e um conselho de religiosos que tem a palavra final sobre os assuntos mais importantes do país. Por mais de três décadas, o líder supremo Ali Khamenei tem exercido seu poder de veto sobre as decisões mais cruciais.

A morte trágica do então presidente Ebrahim Raisi abriu espaço para especulações sobre mudanças no regime iraniano. Especialistas acreditam, no entanto, que a essência das instituições deve permanecer inalterada, mesmo com a eleição de um novo chefe do Executivo. Para Bernardo Kocher, professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense, as estruturas iranianas são sólidas e resistem a impasses políticos. A possibilidade de manutenção é maior do que a de reformas significativas.

Da mesma forma, o jornalista, doutor em ciência política e professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha, prevê poucas mudanças no regime iraniano após a morte de Raisi. Mesmo com a eleição de um presidente mais reformista, as políticas externas do país não devem sofrer alterações. O Irã, com seus 88 milhões de habitantes, se destaca no cenário internacional como um dos maiores produtores de petróleo, além de possuir indústrias petroquímica, naval, aeroespacial e cibernética desenvolvidas.

O Irã possui um sistema político complexo, que vai além do Executivo, do Parlamento e do Judiciário. O Conselho dos Guardiões, formado por indicações do líder supremo e do Legislativo, tem um papel crucial na interpretação da Constituição e na avaliação das leis aprovadas sob a ótica islâmica. A Assembleia dos Especialistas elege o líder supremo, que detém um poder significativo sobre as decisões mais importantes do país, podendo até destituir o presidente.

A economia do Irã também é marcada por um equilíbrio delicado entre o Estado e o empresariado. Apesar da liberdade econômica, o Estado desempenha um papel central na condução da economia nacional, especialmente em setores estratégicos. O embargo econômico liderado pelos Estados Unidos nas últimas décadas fortaleceu as relações entre o empresariado e o regime iraniano, tornando-os interdependentes para garantir a segurança econômica do país.

Em resumo, o regime político do Irã é único e complexo, com um equilíbrio delicado entre elementos republicanos, teocráticos e democráticos. A morte de Raisi possivelmente não provocará grandes mudanças estruturais no país, mantendo a estabilidade e continuidade nas decisões políticas e econômicas.

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