Pela primeira vez, um implante cerebral conseguiu não apenas decodificar a fala de um paciente paralisado através da atividade cerebral, como também diferenciar frases em inglês e espanhol. Esse feito foi possível devido ao desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial que conseguiu identificar o idioma no qual o indivíduo tentava se comunicar em tempo real.
O dispositivo inovador foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Neurociência Weill, da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), nos Estados Unidos. Os resultados desses testes com o paciente bilingue foram publicados na revista científica Nature Biomedical Engineering.
Essa tecnologia é uma interface cérebro-computador (BCIs), um ramo que tem avançado significativamente nos últimos anos. O objetivo dos dispositivos dessa natureza é permitir que pessoas com formas graves de paralisia consigam se mover ou se comunicar. Esse implante cerebral registra a atividade cerebral do paciente e a decodifica para gerar a fala, controlar dispositivos ou até mesmo um braço robótico.
O estudo indica que até o momento os avanços na decodificação da fala a partir da atividade cerebral tinham se limitado a decifrar um único idioma, o inglês. Isso representa um entrave para um possível uso futuro por pessoas que não falam essa língua. Diante disso, os pesquisadores desenvolveram um sistema de inteligência artificial capaz de identificar o idioma que o paciente estava tentando se comunicar apenas observando a atividade cerebral.
O paciente que fez parte dos testes é um falante nativo de espanhol e sofreu um derrame que o deixou paralisado e com dificuldades na fala aos 20 anos. A partir dos 30 anos, ele passou a colaborar com o time da UCSF nos testes com o implante cerebral, recebendo o apelido de Pancho.
Esse novo estudo representa uma contribuição significativa para o campo das neuropróteses de restauração da fala. A IA desenvolvida foi capaz de diferenciar com precisão entre os idiomas inglês e espanhol, atingindo uma taxa de exatidão de 75% na decodificação das frases.
Os avanços nesse campo são promissores, e essas tecnologias têm evoluído rapidamente. Outros exemplos notáveis são o Telepathy, da Neuralink, e o Stentrode, da Synchron, que têm conseguido resultados impressionantes na área da comunicação e movimentação através de interfaces cérebro-computador.
Os pesquisadores estão confiantes de que, combinando esses avanços recentes, será possível alcançar níveis ainda maiores de precisão e eficácia no futuro. A colaboração entre as instituições de pesquisa e o investimento em inovação nesse campo prometem revolucionar a forma como pessoas com paralisia grave podem se comunicar e interagir com o mundo.
