Com 19 depoimentos reunidos, o livro traz histórias de como os atos golpistas foram percebidos, assim como as consequências imediatas e posteriores para as famílias daqueles que tinham entre 6 e 14 anos na época. Os relatos incluem detalhes do ambiente doméstico, como famílias que estocavam alimentos e pais que ordenavam manter as luzes da casa totalmente apagadas.
Um dos episódios marcantes mencionados no livro é o relato de Luiz Philippe Torelly, atual arquiteto, cujo pai o levou embora apressadamente de uma barbearia em Brasília durante o início do golpe militar de 1964. A presença de blindados e ninhos de metralhadora em locais estratégicos gerava tensão, como explica Torelly no livro.
Além disso, a obra contém relatos sobre as pessoas que sofreram diretamente com a ditadura, incluindo casos de perseguição, exílio e tragédias familiares. Um desses relatos é o da jornalista Mônica Maria Rebelo Velloso, que compartilha a história de uma prima que foi perseguida, perdeu seu filho e companheiro, exilou-se e acabou tirando a própria vida.
Outro tema abordado no livro é o destino dos livros considerados “subversivos”. Há relatos de pessoas que queimaram seus próprios livros para evitar problemas com as autoridades e também de casos em que livros foram salvos por meio de estratégias para despistar os militares.
Os organizadores do livro, Márcio Viana e Rita Nardelli, ressaltam a importância de resgatar essas memórias e destacam a politização precoce das crianças e adolescentes durante os primeiros anos da ditadura. O lançamento do livro está agendado para a próxima semana, com eventos em Brasília e no Rio de Janeiro, onde os leitores terão a oportunidade de se aprofundar nessas histórias e refletir sobre um período conturbado da história do país.
