PMs de São Paulo falham no uso de câmeras corporais durante abordagens policiais, aponta levantamento da Defensoria Pública.

Um levantamento realizado pela Defensoria Pública de São Paulo, com base em audiências de custódia, revelou que metade das ocorrências registradas não contaram com o acionamento das câmeras corporais pelos policiais militares do estado. O sistema de filmagem atual, que é fixado nas fardas dos PMs, grava de forma contínua, porém, o som só é registrado se o agente acionar o equipamento, o que deve ser feito em situações de ocorrência.

Durante o período de 10 de janeiro a 3 de junho de 2024, foram analisadas 96 audiências de custódia, onde em 58% dos casos, um total de 56 pedidos, os batalhões não enviaram as imagens solicitadas à Defensoria Pública. Dessas solicitações, foram encaminhadas a 29 batalhões da Polícia Militar.

Dentre os 40 casos que tiveram resposta, foram identificadas oito situações em que os policiais retiraram as câmeras de seus uniformes e quatro em que tentaram encobrir o equipamento para evitar o registro das ações. Além disso, em 11 casos, a Defensoria constatou a existência de violência durante as abordagens policiais.

Diante desse cenário, a Agência Brasil procurou a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo para comentar sobre o levantamento da Defensoria, porém, ainda aguarda uma resposta oficial.

Em maio, o governo de São Paulo lançou um edital para a compra de novas câmeras corporais para a Polícia Militar, visando aumentar o número de equipamentos utilizados. Entretanto, o novo edital apresenta mudanças significativas no sistema de monitoramento, como a necessidade de acionamento das câmeras pelos próprios agentes ou de forma remota pelo comando da PM, ao invés de gravarem ininterruptamente toda a jornada de trabalho dos policiais.

Essas alterações no modelo de monitoramento geraram críticas de especialistas e entidades de defesa dos direitos humanos, que consideram essa mudança prejudicial aos resultados do programa e um desperdício de recursos públicos. Para tentar adequar o sistema, a PM editou uma portaria no dia 6 de junho, determinando que as câmeras corporais devem ser acionadas em todas as ocorrências e abordagens.

Essa medida busca alinhar o novo sistema de câmeras corporais às diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, as quais determinam a possibilidade de acesso aos recursos dos fundos Nacional de Segurança Pública e Penitenciário Nacional. A adesão a essas diretrizes é voluntária para estados e municípios, porém essenciais para obter o suporte financeiro disponibilizado pelo governo federal para programas desse tipo.

O governo de São Paulo enfatizou que as normas editadas pela PM estão em conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, além de outras normas da legislação vigente. Ainda assim, as críticas persistem em relação às mudanças no sistema de monitoramento, que impactam diretamente na transparência e eficácia das ações policiais.

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