Mapa Interativo do Patrimônio Cultural LGBTQIA+ resgata a história e resistência em territórios marcados pela diversidade no Brasil.

Em pleno coração do Rio de Janeiro, mais precisamente no Centro da cidade, situava-se o endereço do sobrado onde residia João Francisco dos Santos, ou Madame Satã, como era conhecido. Este ícone LGBTQIA+ era uma figura de resistência, artista e transformista que deixou sua marca nas noites da Lapa. Foi em um fatídico 18 de fevereiro de 1942, em uma Quarta-Feira de Cinzas, que Madame Satã foi presa injustamente, devido a uma denúncia de um vizinho incomodado com seu comportamento. Mesmo diante da arbitrariedade da ordem, foi condenada a um ano de prisão.

Já em Belo Horizonte, na Praça Sete de Setembro, no Centro da cidade, em março de 1961, uma ronda da Delegacia Especializada de Repressão à Vadiagem capturou um grupo de 27 indivíduos, rotulados como “malandros, vadios, maconheiros, ladrões e anormais”. Dentre os anormais, estavam três travestis: Heddy Lamar, Rosângela e Stefana.

Em outra cidade brasileira, mais precisamente em Aracaju, na Avenida Augusto Maynard, bairro de São José, estava localizada a sede do Cotinguiba Esporte Clube, onde acontecia o famoso Baile das Atrizes. Esse evento, idealizado por João de Barros, também conhecido como Barrinhos, era notório pelas extravagantes fantasias usadas por foliões homossexuais e travestis.

Todas essas localidades fazem parte do Mapa Interativo do Patrimônio Cultural LGBTI+, um projeto inovador do Museu Bajubá. Esse mapa tem como objetivo dar visibilidade aos territórios de resistência e espaços de memória da população LGBTQIA+. Com cerca de 70 locais mapeados em diversos estados e municípios brasileiros, além de parcerias internacionais em Berlim e no México, o Mapa destaca lugares classificados como endereços memoráveis, espaços de sociabilidade, protestos e marchas, memória de organização, memória traumática e censura.

Segundo a historiadora Rita Colaço, ativista LGBTQIA+ e diretora-presidente do Museu Bajubá, é fundamental resgatar, preservar e reverenciar esses espaços e suas histórias. O projeto ainda permite que qualquer pessoa sugira novas localidades para inclusão no Mapa, bastando compartilhar informações detalhadas e precisas.

O Mapa já está disponível online e será oficialmente lançado durante um debate virtual no canal do Youtube da organização, no dia 6 de julho, às 15h. Esta iniciativa representa um importante passo na preservação e valorização da história e cultura LGBTQIA+ no Brasil e no mundo.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo