Uma das conclusões alarmantes do estudo é que 41,2% desses cursos de especialização são realizados de forma completamente a distância, enquanto outros funcionam na modalidade de ensino a distância (EAD) e 11,1% em regime semipresencial. Para as entidades envolvidas, essa realidade representa uma perda considerável de qualidade na formação dos estudantes, o que levou à antecipação da divulgação dessas informações.
O principal receio dos pesquisadores é que essa ampliação desenfreada na oferta de cursos de especialização esteja relacionada a uma prática predatória, na qual os cursos criam a falsa impressão de serem especialidades médicas. Isso pode gerar confusão tanto entre a população quanto entre os próprios profissionais da saúde.
O estudo destaca que, no Brasil, apenas os médicos que passaram pela formação em Residência Médica ou obtiveram o título por meio das sociedades de especialidades filiadas à AMB podem se denominar especialistas. Por outro lado, os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu exigem apenas o registro no Ministério da Educação, sem a obrigatoriedade de uma formação mais extensa e especializada.
O problema é agravado pelo fato de que muitos desses cursos de especialização em medicina são oferecidos por grupos empresariais de educação, com conexões com planos de saúde, hospitais privados e indústria farmacêutica. Segundo os pesquisadores, essa concentração em áreas mais lucrativas, como estética e emagrecimento, demonstra um distanciamento das prioridades e necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Diante desse cenário preocupante, tanto a FMUSP quanto a AMB defendem a regulamentação e a definição do papel dos cursos de especialização, a fim de separar práticas sérias das predatórias. Além disso, ambas as entidades ressaltam a importância de ampliar e reforçar a formação por meio da Residência Médica, como uma alternativa mais apropriada para a qualificação dos médicos especialistas.