General Augusto Heleno nega participação em tentativa de golpe antidemocrático em Brasília, segundo depoimento à CPMI do 8 de Janeiro

O general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), concedeu seu depoimento nesta terça-feira (26) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, que investiga os atos antidemocráticos ocorridos em Brasília no início do ano. Durante seu depoimento, Heleno negou categoricamente que os protestos tenham sido uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de negar qualquer envolvimento em articulações golpistas contra o resultado das eleições presidenciais.

Segundo o general, para caracterizar uma tentativa de golpe, seria necessário uma estrutura muito bem montada e uma direção extremamente preparada. Ele argumentou que os atos realizados por alguns manifestantes não tinham essa complexidade e que se tratavam apenas de “curiosos que fazem umas besteiras”. Heleno afirmou que suas ações no GSI durante o governo Bolsonaro não tiveram cunho político-partidário.

No entanto, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), contestou as declarações do general e afirmou que a comissão possui informações e depoimentos que comprovam a existência de militares, civis e autoridades envolvidos na preparação de um golpe de Estado em 8 de janeiro. Ela destacou o planejamento, a arrecadação de dinheiro, as atividades de lazer no acampamento e o financiamento do transporte dos manifestantes como evidências da ação orquestrada.

Questionado sobre a visita ao acampamento em frente ao Quartel General do Exército, Heleno negou ter participado das atividades realizadas no local. Ele ressaltou que considerava o acampamento uma manifestação política pacífica e que não via a necessidade de sugerir a retirada dos manifestantes, pois não representavam uma ameaça à segurança institucional.

Porém, a senadora Eliziane Gama contestou novamente as declarações do ex-ministro, argumentando que foi do acampamento que partiram os manifestantes que invadiram a Praça dos Três Poderes e praticaram atos de vandalismo. Ela afirmou que o acampamento não era ordeiro e pacífico, como Heleno afirmou anteriormente.

Antes de responder aos questionamentos da relatora, o general fez um pronunciamento em que negou qualquer participação dele ou do GSI nos atos de vandalismo ocorridos em Brasília no ano passado, quando veículos foram incendiados e o prédio da Polícia Federal foi invadido. Ele afirmou que o GSI não foi informado nem participou dessas ações e que soube delas pela televisão, em sua casa.

Ao ser questionado sobre uma possível reunião com os comandantes das Forças Armadas para discutir a possibilidade de um golpe de Estado, o general negou sua participação e classificou a informação como uma fantasia. Ele também negou ter tido acesso a uma minuta de decreto que sugerisse a convocação de novas eleições e a prisão de adversários do então presidente Jair Bolsonaro.

Heleno minimizou a relevância de mensagens golpistas trocadas entre o tenente-coronel Mauro Cid e oficiais do Exército, afirmando que eram apenas fofocas e que não arrastariam uma multidão de generais para dar um golpe. Ele ressaltou que os auxiliares têm um limite de atuação estreito e que é um equívoco acreditar que uma conversa com o tenente-coronel Mauro Cid teria a capacidade de alterar a hierarquia nas Forças Armadas.

Quanto à transição no GSI, o general negou ter dificultado o processo para a entrada do general Marco Edson Gonçalves Dias. Ele afirmou que as portas do GSI foram abertas com transparência total e que o então ministro teve liberdade para estabelecer quem ele queria manter ou trocar na equipe.

O depoimento do general Augusto Heleno foi marcado por discordâncias entre suas declarações e as informações apresentadas pela relatora da CPMI. Enquanto Heleno negou qualquer envolvimento em ações golpistas, Eliziane Gama reforçou que há evidências de planejamento e liderança nas manifestações antidemocráticas ocorridas em Brasília no início do ano. A comissão continuará suas investigações para esclarecer os fatos.

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