Um exemplo de cursinho que se preocupou com essa adaptação é o Colmeia, criado em 2010 na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Limeira. No ano passado, o cursinho se tornou um programa da universidade, o que garantiu mais apoio institucional.
O Colmeia oferece aulas à noite e também disponibiliza modalidade online desde 2019. São 17 professores, entre graduandos e pós-graduandos da Unicamp, que lecionam disciplinas como linguagem, matemática, biologia e ciências humanas.
Além do ensino, o cursinho se preocupa em acompanhar os alunos aprovados quando eles ingressam no ensino superior. O objetivo é oferecer suporte e garantir que os estudantes se integrem bem à comunidade acadêmica e tenham condições de concluir o curso, inclusive financeiramente. Dessa forma, o Colmeia busca promover ações de permanência estudantil.
Para garantir o acolhimento adequado, o cursinho permite que os alunos sejam orientados por pessoas com perfis semelhantes, respeitando o conceito de “lugar de fala”. Alunos indígenas e quilombolas contam com instrutores que pertencem a esses mesmos grupos, assim como adolescentes da Fundação Casa, mulheres e ribeirinhos também têm atendimento especializado.
Uma das preocupações dos cursinhos é garantir o acesso à internet, pois muitos alunos estudam pelo celular, utilizando pacotes de dados que se esgotam rapidamente. Alguns chegam a atravessar rios à noite em canoas para conseguir sinal. Essa batalha pelo acesso à internet mostra a resiliência e a determinação desses estudantes em buscar seu direito à educação.
Outro cursinho que se destaca é o Jenipapo Urucum, da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí). As estudantes indígenas compartilham os aparelhos eletrônicos com suas famílias, o que dificulta ainda mais o acesso. Por isso, o cursinho constantemente busca doações de tablets, computadores e celulares para ajudar essas alunas.
Apesar dos avanços, ainda é necessário ampliar o acesso de estudantes indígenas ao ensino superior. Segundo o Instituto Semesp, em 2021, apenas 0,5% dos alunos do ensino superior eram indígenas. Além disso, o gênero feminino predomina nessa população, correspondendo a 55,6% dos estudantes indígenas.
Esses cursinhos indígenas têm o papel não apenas de preparar os alunos para o Enem, mas também de promover o sentimento de pertencimento. Por meio do contato com estudantes de diferentes povos, os alunos têm a oportunidade de conhecer outras culturas e tradições, o que enriquece ainda mais sua formação.
No entanto, há desafios a serem enfrentados quando esses alunos chegam à universidade. A transição da atmosfera do cursinho para a realidade da instituição de ensino superior pode ser difícil e exige ajustes. Por isso, é importante que políticas de cotas e investimentos no ensino básico sejam aliados para garantir uma maior representatividade indígena nas instituições de ensino superior.
O exemplo de iniciativas como o Colmeia e o Jenipapo Urucum mostra que é possível oferecer oportunidades iguais de educação para todos, valorizando a diversidade e promovendo a inclusão. Esses cursinhos representam um importante passo para uma educação mais inclusiva e igualitária no Brasil.