Decisão do Supremo suspende processo das primárias na Venezuela, deixando acordo com a oposição em aberto

O Supremo Tribunal da Venezuela, alinhado com o chavismo, tomou uma decisão que pode ter importantes consequências para o acordo assinado entre o governo e a oposição. A suspensão dos efeitos do processo das primárias da oposição, realizadas na semana passada, deixa dúvidas sobre o futuro do acordo. Segundo Mariano de Alba, analista sênior do Crisis Group, o governo chavista subestimou a participação popular nas primárias e agora buscará dividir a oposição, mantendo a inabilitação da candidata vencedora, María Corina Machado.

A participação nas primárias foi surpreendente, com mais de 2 milhões de pessoas comparecendo, mesmo em condições adversas. Isso demonstra um claro descontentamento da população em relação ao governo. No entanto, é importante ressaltar que, apesar do número expressivo, representa apenas 10% dos eleitores aptos a votar, de acordo com o órgão eleitoral.

Além disso, é importante considerar que há um grande número de venezuelanos que deixaram o país, totalizando cerca de 8 milhões de pessoas, segundo a ONU. Isso significa que, embora haja mais de 20 milhões de pessoas registradas para votar, apenas entre 8 e 10 milhões são eleitores em potencial.

María Corina Machado, a candidata vencedora, está inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos. Ainda não se sabe como o governo agirá em relação a ela, mas a estratégia atual é ignorá-la e diminuir sua relevância. No entanto, a possível perseguição política preocupa.

O deputado José Brito, responsável por abrir o recurso denunciando irregularidades e que foi acatado pelo Supremo, já foi expulso do partido Primeiro Justiça por suspeitas de envolvimento com o governo. Isso levanta questionamentos sobre a legalidade de sua ação.

Apesar da vitória arrasadora de María Corina Machado, existe o receio de divisões dentro da oposição. A incerteza sobre sua estratégia, caso não seja candidata, pode levar a uma chamada geral para não participar das eleições, o que ela já fez no passado. Juan Guiadó e Henrique Capriles também estão inabilitados e não participaram das primárias, o que significa que outros candidatos da oposição surgirão.

Quanto à candidatura de Maduro, é quase certa. No entanto, o governo pode considerar a possibilidade de ter outro candidato, devido à baixa popularidade do presidente. Isso dependerá da avaliação do governo sobre a melhora econômica e sua tradução em competitividade eleitoral.

No que diz respeito aos EUA, eles agirão com cautela diante da possível violação do acordo. Há um interesse em manter o acordo, especialmente em relação à questão migratória, que será um tema importante nas eleições americanas do próximo ano. No entanto, se o governo venezuelano aumentar a perseguição política, isso poderá impedir concessões por parte dos EUA.

Em resumo, a suspensão dos efeitos das primárias da oposição pela Suprema Corte da Venezuela coloca em xeque o acordo assinado entre o governo e a oposição. A participação popular nas primárias foi surpreendente e demonstra um claro descontentamento da população em relação ao governo. O futuro das eleições e o posicionamento dos EUA serão determinados pelos próximos passos do governo venezuelano.

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