Capitão Lisboa, ex-torturador do regime militar, morre sem responder por crimes, duas semanas após reinstalação da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

O Brasil perdeu nesta semana um personagem controverso da história do país. O delegado da Polícia Civil de São Paulo, David dos Santos Araújo, conhecido como Capitão Lisboa, faleceu aos 86 anos sem ter sido responsabilizado pelos crimes cometidos durante a ditadura militar. Sua morte foi registrada no 29º Cartório de Santo Amaro, em São Paulo.

Capitão Lisboa foi considerado um dos mais violentos torturadores do regime militar, tendo atuado ao lado de Carlos Alberto Brilhante Ustra, então major das Forças Armadas e primeiro militar condenado pela prática de tortura em 2008. Ambos trabalharam juntos no Doi-Codi, local de práticas clandestinas de tortura em São Paulo, onde Araújo exerceu suas crueldades.

O relatório da Comissão Nacional da Verdade aponta que o Capitão Lisboa foi responsável por crimes de tortura, execução e desaparecimento forçado, tendo atuado no órgão de abril a outubro de 1971. Mesmo diante das acusações e evidências apresentadas, o policial negou os crimes em seu depoimento à Comissão.

Dentre os casos que constam nas acusações contra o delegado aposentado estão as mortes de Aylton Adalberto Mortati e Joaquim Alencar de Seixas, além da tortura de Ivan, filho de Seixas, e outros membros da família. Em 1981, Araújo chegou a receber a Medalha do Pacificador do Exército, e, posteriormente, em 2012, sua empresa de segurança privada em São Paulo foi alvo de protestos por parte do Levante Popular da Juventude.

A morte de Capitão Lisboa ocorre em meio à retomada dos trabalhos da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que após ter sido interrompida em 2022, foi reinstalada recentemente graças aos esforços do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e do Governo Federal. A Comissão, criada em 1995, busca analisar casos de abusos e violências do período militar, reconhecendo mortes e promovendo o pagamento de indenizações às famílias das vítimas, buscando assim trazer justiça e memória aos anos sombrios da ditadura no Brasil.

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