A imprensa acerta ao não divulgar detalhes de ataques em escolas, respeitando a ética jornalística e evitando a disseminação de informações sensacionalistas.

Veículos de imprensa adotam uma postura responsável ao evitar dar detalhes sobre ataques armados em escolas. Essa cautela na divulgação de informações é uma forma de prevenir um possível “efeito contágio”, que poderia estimular novos casos de violência semelhante. Essa foi a avaliação de especialistas e jornalistas que participaram do 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado em São Paulo.

Durante o congresso, a pesquisadora americana Sherry Towers, renomada por seus estudos sobre o impacto da cobertura da imprensa em ataques a escolas nos Estados Unidos, compartilhou sua análise sobre a recorrência desses eventos. Ela concluiu que há um efeito contágio, onde pessoas são inspiradas pelos casos veiculados pela mídia e acabam cometendo ações semelhantes. Segundo Towers, cerca de 20% a 30% dos tiroteios em escolas nos EUA são atribuídos a esse efeito, que dura aproximadamente duas semanas.

Embora os relatos de violência em escolas sejam mais recentes no Brasil, a pesquisadora americana acredita que o contágio também desempenha um papel significativo no país. Recentemente, um levantamento do Instituto Sou da Paz revelou que desde 2012, o Brasil já vivenciou 24 ataques em escolas, resultando em 45 mortes.

Diante desses dados, Sherry Towers defende que a imprensa tenha cautela ao divulgar informações sobre atos de violência contra estudantes. Ela faz referência ao caso conhecido como Massacre de Columbine, nos Estados Unidos, onde a mídia divulgou detalhes sobre os agressores, como roupas e estratégias utilizadas, que acabaram sendo copiados em dois ataques no Brasil, em Suzano e Realengo.

Essa recomendação da pesquisadora vai de encontro à orientação da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) para que os veículos de imprensa evitem divulgar detalhes sobre os agressores, como seus nomes e formas de agir. Essa postura já foi adotada por diversos veículos de comunicação após casos ocorridos este ano em Blumenau e em São Paulo.

O congresso também contou com a participação da professora Telma Vinha, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que apontou para a necessidade de uma cobertura jornalística sobre educação que vá além de dados quantitativos e resultados. Ela destaca a importância de se preocupar com o ambiente escolar e a qualidade do clima e da convivência nas escolas.

A postura dos veículos de imprensa em limitar a divulgação de detalhes sobre ataques a escolas foi vista de forma positiva tanto pelos especialistas quanto pelos profissionais da mídia. A jornalista Lorrany Martins, que cobriu os ataques em Aracruz, no Espírito Santo, em 2022, ressalta o papel do jornalismo como fonte confiável de informação em momentos de crise.

O Congresso Jeduca continua até o dia 19 de outubro, abordando temas como inteligência artificial no jornalismo, novo ensino médio e educação midiática. Durante a abertura do evento, foram apresentados projetos jornalísticos que contam a história sob uma perspectiva afrocentrada. A discussão sobre a cobertura de casos de violência em escolas ainda está em andamento, e futuramente podem ser estabelecidos parâmetros mais claros para a atuação da imprensa nesses casos delicados.

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