Acesso ao tratamento do câncer de mama pelo SUS é desigual para mulheres negras, aponta seminário no Outubro Rosa

No seminário “Inovação, educação e cuidado com as mulheres no Outubro Rosa”, especialistas concluíram que a questão racial é um fator importante no acesso ao tratamento do câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS). O evento, organizado pela Secretaria da Mulher e pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, faz parte da Campanha Outubro Rosa.

De acordo com uma pesquisa do Instituto Avon, apenas 24% das mulheres negras realizam mamografia, enquanto 47% das pacientes que recebem o diagnóstico de câncer em estágio avançado são negras. A diretora do instituto, Daniela Grelin, alertou para o fato de que as mulheres negras têm menos acesso aos exames de rastreamento, o que resulta em um estágio mais avançado no diagnóstico e uma letalidade maior.

Apesar de o SUS prever acesso universal, critérios como faixa de renda e raça segregam as mulheres na realização de exames preventivos e no acompanhamento da evolução da doença. Damiana Bernardo de Oliveira, integrante da Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher do Conselho Nacional de Saúde (CNS), destacou a existência do racismo institucional na saúde que precisa ser enfrentado. Ela ressaltou que as mulheres mais diagnosticadas com câncer são brancas, mas as que mais morrem da doença são negras.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 18 mil pessoas morreram de câncer de mama no Brasil em 2021. A presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz de Camargo Barros, citou uma pesquisa realizada em favelas de todo o país, que mostrou que os pacientes não têm acesso ao tratamento oncológico devido à falta de creches e aos custos de locomoção e alimentação longe de casa. Segundo os dados, 44% das pessoas concordam que, se tivessem com quem deixar os filhos, poderiam cuidar melhor da saúde. Holtz destacou a necessidade de ações específicas para os grupos mais vulneráveis.

A consultora da saúde da mulher da Organização Panamericana de Saúde (Opas), Gabriela Giacomini, também ressaltou que muitas mulheres não têm condições de ir até as unidades básicas de saúde para realizar exames preventivos, mesmo com a política de saúde bem estruturada nesse sentido.

A deputada Renilce Nicodemos (MDB-PA) falou sobre o trabalho do Instituto Ercilia Nicodemos, que oferece exames ginecológicos e mamografias para mulheres nas áreas ribeirinhas e rurais do Pará. Segundo dados do Ministério da Saúde, 20% das mulheres com idade entre 58 e 69 anos nunca realizaram mamografia, e 55% das mulheres diagnosticadas com câncer são diagnosticadas em estágios avançados da doença.

A secretária nacional de Aquicultura, deputada licenciada Tereza Nelma, que está tratando um câncer em estágio de metástase, concordou que é preciso ampliar os cuidados de saúde da mulher, mas enfatizou que não faltam recursos, e sim fiscalização. Segundo ela, o Ministério da Saúde disponibilizou R$ 150 milhões em 2019 e 2020 para a prevenção e diagnóstico do câncer de mama e do câncer de útero.

O seminário destacou a importância de combater as desigualdades raciais no acesso ao tratamento do câncer de mama e de implementar políticas específicas para grupos mais vulneráveis, como as mulheres das favelas e das áreas rurais. Além disso, ressaltou a necessidade de fiscalização e monitoramento dos recursos destinados à saúde da mulher. A luta contra o câncer é uma tarefa coletiva que demanda esforços conjuntos da sociedade e do poder público para garantir uma atenção adequada e igualitária a todas as mulheres.

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