Políticas em Corpos Femininos: Relatório da ONU alerta para risco de retrocesso nos avanços em saúde sexual e reprodutiva.

O relatório divulgado pela ONU nesta quarta-feira chama atenção para a politização dos corpos das mulheres, o que tem impactado diretamente os avanços conquistados na área da saúde sexual e reprodutiva nas últimas três décadas. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), apesar da queda nas taxas de mortalidade materna e de gravidez indesejada, os direitos sexuais e reprodutivos estão estagnando ou até mesmo desacelerando.

Há pouco mais de 30 anos, durante uma conferência no Cairo, 179 países se comprometeram a tornar os direitos sexuais e reprodutivos um foco central do desenvolvimento sustentável. Este compromisso resultou em avanços significativos, como o aumento no número de mulheres utilizando anticoncepcionais e a promulgação de leis contra a violência doméstica em pelo menos 162 países.

Entretanto, apesar dessas conquistas, milhões de mulheres e meninas ainda não têm acesso aos benefícios desses avanços devido a considerações sobre sua identidade ou origens. O relatório aponta o racismo, sexismo e outras formas de discriminação como obstáculos para a plena garantia dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.

A diretora-executiva do UNFPA, Natalia Kanem, destacou em uma entrevista coletiva que a politização dos corpos das mulheres tem sido um problema crescente, afetando questões como aborto e fertilidade. Segundo Kanem, a tendência de politizar a reprodução humana tem contribuído para a desaceleração dos avanços e até mesmo estagnação em alguns aspectos.

O relatório ainda aponta para a falta de redução da mortalidade materna desde 2016 e para o aumento alarmante da violência de gênero em diversos países. Além disso, quase metade das mulheres ao redor do mundo ainda não tem autonomia para tomar decisões sobre seus corpos e exercer seus direitos de saúde sexual e reprodutiva.

Outras preocupações levantadas no relatório incluem o aumento da mutilação genital feminina em 15% desde 2016 e as desigualdades crescentes nas sociedades e nos sistemas de saúde. Mulheres pertencentes a minorias étnicas, LGBT+, com deficiência, ou em situação de conflito têm um risco ainda maior de enfrentar problemas de saúde sexual e reprodutiva.

Em um mundo onde as desigualdades persistem e a politicagem interfere na garantia dos direitos fundamentais das mulheres, o relatório da ONU serve como um alerta para a necessidade de ações concretas e urgentes para reverter esse cenário e promover a igualdade de gênero e o acesso universal aos direitos sexuais e reprodutivos.

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