Violência e medo: Relatos de brasileiro e haitiano sobre a vida em Porto Príncipe, cidade controlada por gangues armadas.

Reportagem: Violência, medo e fome assolam a população de Porto Príncipe

Porto Príncipe, a capital do Haiti, vive em estado de caos e terror devido ao domínio quase total de gangues fortemente armadas. O brasileiro Werner Garbens, de 37 anos, é um dos que testemunha de perto o clima de insegurança que impera na cidade. Com mais de uma década de residência no país caribenho, Garbens relatou à Agência Brasil a realidade cruel enfrentada pela população local.

“Dezenas de pessoas conhecidas por mim foram vítimas fatais ou sequestradas. O sequestro é uma prática comum desses grupos criminosos que aterrorizam a população, roubam pertences e até estupram mulheres e meninas”, revelou Garbens. O relato do brasileiro é corroborado por Bruno Saint-Hubert, haitiano de 37 anos que milita no movimento de pequenos agricultores Tèt Kole Ti Peyizan Ayisyen.

Bruno testemunha o medo que assola a população da capital haitiana e lamenta a paralisação da vida cotidiana, com escolas e universidades fechadas e a liberdade de circular praticamente perdida. O cenário é agravado pela presença constante de gangues armadas que dominam as ruas e provocam terror.

A situação atingiu um cenário de desespero com a recente renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, levando ao fechamento do aeroporto e do porto da cidade. A população sitiada vive na expectativa de avanços por parte do novo Conselho Presidencial de Transição, que promete reorganizar o país e convocar eleições para 2025, após sete anos sem pleitos.

A violência e o medo são apenas parte do cenário desolador que Porto Príncipe enfrenta atualmente. A fome também assola o país, com quase metade da população em situação de “fome aguda”, segundo o Programa Mundial de Alimentos. A população se vê impedida até de receber alimentos devido aos bloqueios impostos pelas gangues nas estradas.

Diante de tamanha crise, tanto brasileiro quanto haitiano reconhecem o papel crucial que a comunidade internacional desempenha no Haiti. Enquanto Bruno Sant-Hubert vê na interferência estrangeira um dos principais obstáculos para a melhoria da situação no país, Werner Garbers destaca a importância de parcerias para aliviar o sofrimento da população local.

A solidariedade e a esperança surgem como luzes em meio às trevas que recobrem Porto Príncipe. O Centro Cultural Brasil-Haiti, coordenado por Garbers, promove eventos culturais e se torna um refúgio para aqueles que buscam alívio em meio ao caos. A população haitiana mantém a admiração pelo Brasil, principalmente pelo futebol e pelo histórico de parcerias entre os dois países.

Enquanto a comunidade internacional discute os rumos do Haiti, a população de Porto Príncipe segue enfrentando o medo, a violência e a fome, na esperança de dias melhores e de um futuro que traga mais segurança e dignidade para todos que habitam essa terra marcada pela crise e pela resiliência de seu povo.

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