De acordo com Paim, a falta de incentivos e as dificuldades para ter uma produção viável têm levado muitos pequenos produtores a abandonar a atividade leiteira. Ele destacou que desde 2018, mais de 44 mil pequenos produtores gaúchos abandonaram a cadeia leiteira, o que tem levado a uma queda de 5,5% na produção nacional de leite em 2022. Além disso, nos primeiros três meses de 2023, o Brasil importou 6 milhões de litros de leite dos países do Mercosul, além do aumento das importações de leite em pó.
Durante a reunião, os representantes do governo apresentaram algumas iniciativas que estão sendo tomadas para auxiliar os produtores. Entre elas, destaca-se o aumento da tarifa de importação de 29 produtos lácteos, como iogurtes, manteigas, queijos ralados e doces de leite, de 10,8% para 14,4%. Além disso, mencionaram a destinação de R$ 100 milhões em verbas orçamentárias para a compra da pequena produção local.
No entanto, os representantes dos produtores de leite afirmaram que as medidas ainda estão longe de solucionar a crise, que é de caráter estrutural. Segundo eles, é necessário garantir uma remuneração justa aos agricultores, levando em consideração os custos da produção, independentemente das oscilações de mercado. Além disso, também reivindicaram a redução de impostos sobre a produção de leite e a valorização da legislação que trata dos contratos antecipados de compra e venda.
A representante da Federação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar no Rio Grande do Sul (Fetraf-RS), Cleonice Back, ressaltou a importância de subsidiar a produção de leite no Brasil, assim como acontece na Europa e nos países do Mercosul. Ela também destacou a necessidade de garantir pelo menos três a seis meses de produção e de intensificar a repressão a fraudes comerciais que permitem a entrada de leite estrangeiro no país.
Além dos representantes do governo e dos produtores de leite, também participaram da reunião representantes de entidades ligadas à agricultura familiar, como a União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Contrf-Brasil/CUT).
A crise enfrentada pelo setor leiteiro é um desafio que requer ações conjuntas do governo e dos produtores, visando a garantir uma produção sustentável e a dignidade dos agricultores familiares. É preciso buscar soluções que valorizem a produção local e protejam os produtores da concorrência desleal, para que o setor possa se desenvolver e contribuir para o abastecimento do país.