Estudo revela que aplicativos de transporte aumentam acesso ao trabalho e serviços públicos, mas acentuam desigualdade econômica.

O acesso aos aplicativos de transporte tem se mostrado uma ferramenta importante para a população em relação ao trabalho e serviços públicos. No entanto, um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que essa facilidade intensifica a desigualdade econômica entre as classes sociais. A pesquisa analisou dados de 152 milhões de viagens realizadas no Rio de Janeiro entre março e dezembro de 2019, fornecidos pela Uber.

De acordo com o estudo, os aplicativos de transporte têm um grande potencial para ampliar o acesso da população ao emprego e outros tipos de atividades econômicas e serviços públicos. O uso exclusivo desses serviços ou a combinação com o transporte público mostrou resultados significativos em relação à acessibilidade. Viagens curtas de aplicativo apresentaram muito mais acessibilidade do que viagens de duração semelhante feitas por transporte público, devido ao menor tempo de espera pelo carro e maior velocidade média de deslocamento.

Por exemplo, considerando uma viagem de 30 minutos com custo de até R$ 24, a acessibilidade média por carro de aplicativo é até sete vezes maior do que por transporte público. Já quando uma viagem de Uber de 60 minutos é complementada pelo transporte público, o acesso ao emprego aumenta significativamente, de acordo com a pesquisa.

No entanto, essa maior acessibilidade em viagens mais longas também se traduz em uma maior desigualdade social. Quanto maior a distância percorrida, maior é o custo do trecho realizado com o carro de aplicativo, o que se torna uma barreira para pessoas de baixa renda. O pesquisador Rafael Moraes Pereira afirma que a questão financeira é um grande impedimento para que o serviço de mobilidade por aplicativo beneficie toda a população.

Apesar de os dados analisados serem de 2019, Pereira afirma que algumas tendências identificadas no estudo provavelmente se mantiveram nos anos seguintes. Ele ressalta que os padrões de viagens e a barreira financeira para o pagamento dos custos de deslocamento são questões persistentes. Além disso, o pesquisador destaca que o teletrabalho, ampliado durante a pandemia, sempre foi restrito a uma parcela reduzida da população.

Diante desses desafios, o pesquisador defende a necessidade de maior integração entre os sistemas de transporte público e subsídio por parte do poder público. Para ele, o modelo de financiamento exclusivamente baseado nas tarifas pagas pelos passageiros não é sustentável economicamente na maioria das cidades brasileiras. Pereira sugere a implementação de subsídios financiados por impostos, cobrança de estacionamento nas áreas congestionadas e multas de trânsito.

Além disso, o pesquisador acredita que é importante desenvolver centros comerciais em áreas periféricas, próximas a estações de trem, para que o acesso a oportunidades de emprego seja ampliado. Ele ressalta que não existe uma solução única para os problemas de mobilidade, mas é preciso adotar políticas públicas que levem em consideração a integração dos modais de transporte e a realidade econômica da população. A Uber colaborou com o estudo, compartilhando dados, e ressaltou a importância da complementaridade entre os aplicativos de transporte e o sistema público.

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