Disputas sobre a narrativa da ditadura brasileira surgem desde a decretação do golpe militar de 1964: o uso de termos revela interpretações.

No dia 31 de março de 1964, o Brasil foi palco de um dos momentos mais marcantes da sua história: o golpe militar que derrubou o governo democrático e instaurou um regime de exceção que duraria 21 anos. Desde então, a forma como se reconta a ditadura que se consolidou a partir desse golpe tem sido motivo de disputas e debates acalorados.

Os termos utilizados para descrever esse período conturbado da história brasileira têm o poder de revelar diferentes perspectivas e interpretações sobre os acontecimentos. A Agência Brasil conversou com especialistas para entender as nuances por trás das palavras-chave relacionadas à ditadura militar, como “ditadura militar”, “ditadura civil-militar”, “golpe”, “revolução”, “presidente” e “ditador”.

O professor Daniel Aarão Reis, da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi pioneiro ao introduzir o termo “ditadura civil-militar” em seus estudos sobre o regime autoritário. Segundo ele, essa nomenclatura destaca a participação ativa e consciente de civis desde o início da ditadura, em 1964. Aarão Reis ressalta a importância de reconhecer o papel dos civis, como empresários, parlamentares e líderes religiosos, na sustentação do regime militar.

Por outro lado, o historiador Rodrigo Patto Sá Motta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), argumenta que o uso do termo “ditadura militar” é mais apropriado, pois enfatiza o papel central das Forças Armadas no governo autoritário. Ele destaca que os militares foram a “alma e a força dirigente” da ditadura, impondo seus interesses sobre outros grupos sociais, como o empresariado.

A discussão em torno da escolha de termos como “golpe” e “revolução” também revela divergências na interpretação dos eventos de 1964. Enquanto alguns defendem a ideia de que o golpe foi uma revolução necessária, outros ressaltam o caráter antidemocrático e autoritário do regime instaurado.

Em meio a essas disputas linguísticas e históricas, os pesquisadores alertam para a importância de refletir criticamente sobre o passado autoritário do Brasil, evitando que os erros do passado sejam repetidos no futuro. A memória da ditadura militar deve ser preservada e discutida de forma honesta e imparcial, para que as gerações futuras possam aprender com os equívocos do passado e construir uma sociedade mais justa e democrática.

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