STF não aborda o vape, haxixe e óleo em discussão sobre a descriminalização da maconha.

As diversas formas de consumo da maconha estão cada vez mais populares no Brasil, indo além dos tradicionais cigarros enrolados em papel seda. Canetas vaporizadoras, óleos comestíveis, lubrificantes íntimos e haxixes do tipo dry e ice são alguns dos novos formatos que estão ganhando destaque no mercado nacional.

Essa tendência de diversificação de consumo começou a se fortalecer a partir de 2015, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a discutir a descriminalização da posse de drogas para uso pessoal. Nesta quinta-feira (17), o julgamento será retomado, oito anos após o início das discussões.

Até o momento, quatro ministros do STF já votaram a favor da descriminalização, sendo que três deles restringiram suas decisões apenas à maconha. O critério provisório estabelecido por esses ministros para diferenciar traficantes de usuários é a posse de 25 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas. No entanto, essa medida se refere apenas à maconha in natura, ou seja, suas folhas e flores, não se aplicando aos novos formatos de consumo.

Nos Estados Unidos, onde 20 estados já legalizaram o uso recreativo da maconha e outros 18 permitem o uso medicinal da planta, pesquisas revelam que o consumo das folhas e flores está diminuindo entre os jovens adultos, enquanto o uso da substância em cigarros eletrônicos está aumentando.

No Brasil, como não há dados específicos sobre o consumo desses novos formatos, as apreensões policiais são utilizadas como indicativo. Segundo Carlos Castiglioni, delegado divisionário do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) de São Paulo, o mercado de maconhas gourmetizadas está em alta. Ele relata um aumento significativo das apreensões de haxixe, especialmente do tipo dry, além das canetas vaporizadoras e óleos de maconha para cigarros eletrônicos.

Em relação às apreensões em São Paulo, o Denarc registrou a apreensão de 581 mililitros de óleo de maconha em frasco ou em refil para canetas vape em 2022, e 231 mililitros até o início de agosto de 2023. Esse mercado é considerado elitizado e concentrado em bairros de classe alta, como os Jardins, em São Paulo.

Além disso, é importante destacar que os produtos derivados da maconha, como tinturas, resinas e óleos, podem ter diferentes concentrações de THC (tetrahidrocanabinol) e CBD (canabidiol), princípios ativos que podem ter finalidades terapêuticas ou recreativas. O uso medicinal é determinado pelo médico, enquanto o uso recreativo está sujeito a questões legais.

Diante disso, o julgamento do STF levanta questões sobre a diferenciação entre os diversos formatos de consumo de maconha e qual quantidade seria considerada uso pessoal. A falta de clareza nesse ponto pode gerar insegurança jurídica e abrir brechas para contestações judiciais.

Portanto, é importante uma reflexão mais abrangente sobre as formas de consumo de cannabis, considerando não apenas as folhas e flores, mas também os outros produtos derivados, levando em conta a concentração de THC em cada um deles. A complexidade das relações sociais e a diversidade de práticas exigem uma análise mais abrangente e flexível por parte do judiciário.

É necessário aguardar o desfecho desse julgamento para entender melhor como a legislação brasileira irá tratar as diferentes formas de consumo da maconha e proporcionar mais clareza e segurança jurídica para os usuários e autoridades envolvidas.

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