Aquecimento global acelera disseminação de doenças transmitidas por mosquitos e Brasil enfrenta maior epidemia de arboviroses da história.

De acordo com médicos brasileiros, o futuro sombrio previsto para a disseminação de doenças transmitidas por mosquitos devido ao aquecimento global já se tornou uma realidade no país. O médico e cientista potiguar Kleber Luz, conhecido por sua atuação no combate à microcefalia associada ao vírus da zika em 2015, alertou durante o Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado na semana passada em Salvador, para um aumento nos casos de dengue no final do inverno, em setembro, período em que a doença normalmente não se espalha tanto.

Luz afirmou que o Brasil está atualmente enfrentando uma das maiores epidemias de arboviroses das Américas. Ele destacou que o comportamento dessas doenças tem sido modificado pela presença do vetor, ou seja, o mosquito. E essa presença do vetor tem sido modificada pelo aquecimento global.

A dengue é uma das doenças mais evidentes desse problema, com um recorde de casos e mortes. A doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti causa cerca de 1,5 milhão de casos por ano no Brasil e já matou mais de 2.000 pessoas nos últimos dois anos. Além disso, países vizinhos, como Uruguai, norte da Argentina e Chile, também estão enfrentando problemas com a doença.

Luz também expressou preocupação com a expansão do sorotipo 3 do vírus da dengue, que está presente no norte das Américas e já chegou ao norte do Brasil. O médico alertou que a presença desse sorotipo pode gerar problemas.

Além da dengue, a chikungunya também preocupa os especialistas devido a um comportamento incomum da doença. Embora normalmente não seja letal, a chikungunya tem causado uma alta mortalidade num surto que ocorre no Paraguai, com mais de 300 óbitos. Os médicos ainda não entenderam o motivo dessa alta letalidade, o que levanta a possibilidade de uma versão mais agressiva da doença surgir em outros países.

A zika, por sua vez, parece ser um problema menor atualmente, já que não ocorreu uma nova epidemia de microcefalia em bebês desde o grande surto de 2016. No entanto, o patógeno ainda permanece na população e os epidemiologistas não sabem ao certo o que pode levar a um novo surto da malformação neurológica.

Além das doenças conhecidas, outros dois patógenos menos conhecidos têm aparecido com mais frequência nos diagnósticos e estudos de monitoramento: o oropouche e o mayaro. O primeiro já tem presença estabelecida na região Norte do Brasil, com casos registrados em Roraima, Acre e Rondônia. Já o mayaro pode ser confundido com a chikungunya.

Além da variedade de vírus, a diversidade de insetos também preocupa os cientistas. O vírus de Ilhéus, por exemplo, está adaptado a oito gêneros diferentes de mosquitos, incluindo o Culex, que é comum no Brasil. Outro mosquito que tem gerado preocupação é o Aedes albopictus, um primo do Aedes aegypti que voa em enxames e tem colonizado zonas urbanas.

Diante desse cenário, os cientistas alertam para a necessidade de adotar estratégias mais modernas para exterminar os mosquitos, como o uso de bactérias Wolbachia, que tem sido eficaz. No entanto, se novas espécies de mosquitos surgirem, será necessário investir no desenvolvimento de vacinas para combater as arboviroses. Atualmente, só existem vacinas para dengue e febre amarela.

Diante do desafio que o aquecimento global representa para a disseminação de doenças transmitidas por mosquitos, é fundamental desenvolver medidas eficazes de controle e prevenção, a fim de proteger a população e reduzir os impactos dessas enfermidades.

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