Apesar de ruim, Brasil supera expectativas no Pisa 2022, mas gargalos na aprendizagem, principalmente em matemática, são reforçados.

O desempenho do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022 foi um dos temas mais discutidos nesta terça-feira (5). Apesar do quadro preocupante, especialistas entrevistados pela Agência Brasil apontam que os resultados obtidos foram melhores do que o esperado. No entanto, as avaliações reforçam o grande desafio na aprendizagem, principalmente em relação à matemática, no país.

Os números divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontaram uma queda sem precedentes no desempenho dos estudantes em matemática e leitura em 2022, quando comparado com a última avaliação do Pisa, realizada em 2018. A pandemia de covid-19, que resultou no fechamento das escolas e na adoção de aulas online, é apontada como um fator que impactou a educação dos jovens, mas não o único responsável pelo desempenho inferior dos alunos.

O Brasil, um dos países onde as escolas ficaram fechadas por mais tempo, manteve-se estável na pontuação em matemática, leitura e ciências entre 2018 e 2022. No entanto, menos de 50% dos alunos atingiram o nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências, apontando para um desafio educacional a ser enfrentado.

O diretor fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Faria, avaliou que, apesar dos resultados ruins, o Brasil conseguiu manter o patamar de aprendizagem, o que é considerado positivo. Ele destacou que o país foi capaz de garantir que os alunos desenvolvessem habilidades básicas, o que, apesar de não ser motivo para comemoração, é importante. Faria apontou ainda a necessidade de uma análise cuidadosa dos resultados do Pisa.

O Pisa avalia os conhecimentos dos estudantes de 15 anos em matemática, ciências e leitura, sendo aplicado a cada três anos para alunos de 81 países. Na edição de 2022, o foco foi em matemática. Os resultados mostraram que apenas 27% dos alunos brasileiros atingiram o nível mínimo de aprendizado em matemática, enquanto a média dos países da OCDE na disciplina é 69%. Apenas 1% dos estudantes no Brasil conseguiram os níveis mais altos, quando os alunos resolvem problemas complexos, comparando e avaliando estratégias. A média da OCDE nesses níveis é 9%.

A ênfase no Pisa 2022 foi em matemática, área que, mais uma vez, foi apontada como o maior gargalo brasileiro. O Brasil está cerca de três anos atrasado em matemática em relação à média dos países da OCDE, de acordo com os dados revelados. O desafio do ensino de matemática no Brasil foi atribuído à falta de valorização dos professores e à crença de que a disciplina é difícil. Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), ressaltou a importância de um constante aprimoramento dos professores e a valorização do conhecimento matemático no país.

O professor e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara destacou que o cenário pode ser revertido se houver investimento adequado em educação. Ele apontou que, caso o país tivesse cumprido as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil teria alcançado patamares próximos aos de países ricos no Pisa. Cara ressaltou a importância da estruturação das escolas, da remuneração adequada e da formação continuada dos profissionais de educação para a melhoria do ensino no Brasil.

Os resultados do Pisa de 2022 evidenciam a urgência de investimentos na educação brasileira para superar os desafios presentes no aprendizado dos estudantes. Apesar de um desempenho aquém do desejado, as análises indicam que há potencial para a melhoria do ensino no país. A valorização dos profissionais de educação e a implementação de políticas públicas eficazes podem contribuir significativamente para a reversão desse quadro.

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