O Ipea ressalta, no entanto, que esse número não pode ser considerado um censo oficial, devido às dificuldades existentes para fazer um levantamento preciso desse grupo vulnerável. Além disso, o estudo revelou que além dos problemas familiares e desemprego, outras causas para a situação de rua apontadas pelas pessoas foram alcoolismo e outras drogas, perda de moradia, violência, distância do local de trabalho, tratamento de saúde, preferência pessoal e outras questões diversas.
De acordo com o Ipea, os motivos individuais que explicam a situação de rua podem ser organizados em três dimensões: exclusão econômica, fragilização de vínculos sociais e problemas de saúde, os quais muitas vezes se manifestam simultaneamente. A exclusão econômica envolve insegurança alimentar, desemprego e déficit habitacional, enquanto a fragilização ou ruptura de vínculos sociais abrange laços familiares e comunitários que poderiam fornecer apoio em momentos difíceis.
Quanto ao tempo de permanência na situação de rua, o Ipea constatou que problemas familiares e de saúde, como abuso de álcool e outras drogas, geralmente prolongam a situação. Já razões econômicas tendem a resultar em um período de rua mais curto. O estudo apontou que, em média, 33,7% das pessoas permaneciam nessa condição por até 6 meses, 14,2% entre 6 meses e 1 ano, 13% entre 1 e 2 anos, 16,6% entre 2 e 5 anos, 10,8% entre 5 e 10 anos e 11,7% há mais de 10 anos.
No que diz respeito a dados raciais, geográficos e gerais, o estudo revela que a maioria das pessoas nessa situação se declarou negra (68%), com um número médio de anos de escolaridade menor que o de pessoas brancas. Além disso, apenas 11,6% da população adulta nessas condições era composta por mulheres.
O Ipea salienta que o objetivo do estudo é colaborar com o aprimoramento das políticas públicas voltadas para a população em situação de rua, considerando um conjunto abrangente de informações. Entre as iniciativas nos planos políticos federais, em setembro foi lançado o Guia Inclua – Pop Rua, uma Avaliação de Riscos de Desatenção, Exclusão ou Tratamento Inadequado da População em Situação de Rua por meio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
Em novembro, o MDHC lançou o Plano de Ação e Monitoramento para Efetivação da Política Nacional para a População em Situação de Rua e, mais recentemente, o governo federal lançou o Plano Nacional Ruas Visíveis – Pelo direito ao futuro da população em situação de rua, que prevê um investimento inicial de R$ 982 milhões em medidas desenvolvidas a partir de sete eixos: Assistência Social e Segurança Alimentar; Saúde; Violência Institucional; Cidadania, Educação e Cultura; Habitação; Trabalho e Renda; e Produção e Gestão de Dados.