A saga indígena após o rompimento da barragem Samarco: lutas, ameaças e reconstrução em Minas Gerais.

Cinco anos depois do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG), a tragédia ainda permanece viva na história de grupos indígenas atingidos. O impacto no meio ambiente, nas atividades produtivas e nas práticas religiosas das famílias das etnias Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe de São Joaquim de Bicas (MG) não foi apenas avassalador, mas também fragmentador.

No município mineiro, a Aldeia Naô Xohã, situada às margens do Rio Paraopeba, viu sua estrutura ser comprometida devido à lama que escorreu após o rompimento da barragem. Diante das adversidades, muitos indígenas optaram por deixar a aldeia em busca de novos rumos, enquanto outros permaneceram, enfrentando ameaças e desafios. A cacique Célia Angohó, que lidera um grupo de 30 famílias Pataxós Hã-hã-hãe, descreve a luta pela sobrevivência e a busca pela paz em meio a conflitos e adversidades.

Após o rompimento, a Aldeia Katurãma foi erguida graças ao apoio da Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira (AMCNB). A nova aldeia em uma mata precisou enfrentar ameaças de grileiros, evidenciando o persistente temor existente entre os indígenas. A luta pela posse legal da terra intensificou-se, e a entidade doou 100% do terreno, além de assumir o pagamento das taxas de cartório e outras despesas relacionadas à transferência. A associação criada pelos indígenas e um regimento interno aprovado garantiram a segurança e a preservação do modo de vida tradicional.

No entanto, além dos desafios próprios da posse da terra, as ameaças dos grileiros persistiram em 2021, com relatos de tentativas de incêndio e invasões de homens armados. Associações e instituições, como a Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU), foram acionadas para prestar apoio e proteção aos indígenas, tornando mais complexa a recuperação e estabilidade dos povos atingidos.

O acordo de reparação, indenização e compensação firmado com a Vale foi uma etapa importante da batalha dos indígenas liderados pela cacique Ângohó para lidar com as consequências do rompimento da barragem. No entanto, questões relacionadas à permanência na terra, à segurança, à saúde e à garantia de direitos continuam sendo desafios que precisam ser superados.

Após um período de instabilidade e desafios, a comunidade indígena tem buscado reerguer-se na mata e preservar sua cultura, tradições e valores. A cacique enfatiza a importância da união e do fortalecimento da comunidade em meio às adversidades, buscando construir uma aldeia modelo capaz de preservar e transmitir a história do povo Pataxó para as futuras gerações.

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