Diante de um estande reluzente com um dispositivo futurista de escaneamento biométrico, Sosa reflete sobre sua situação financeira precária: “Faço isso porque não tenho um peso, não há outra razão. Não queria fazer isso, mas por causa da minha idade ninguém me dá trabalho, e eu preciso do dinheiro”. Essa é apenas uma das muitas histórias tristes que ecoam pelos 250 pontos da Worldcoin instalados em toda a Argentina.
A empresa, fundada em 2023 pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, tem despertado controvérsias e atraído a atenção das autoridades reguladoras em vários países. No Quênia, Espanha e Portugal, ordens foram emitidas para que a coleta de dados biométricos fosse suspensa até que investigações adequadas fossem concluídas. No entanto, na Argentina, onde a inflação atingiu 211% em 2023, a Worldcoin tem se popularizado, com mais de meio milhão de argentinos aderindo ao escaneamento da íris até o início de 2024.
Para a empresa, a proposta vai além de uma simples transação financeira. A ideia é construir a “maior rede financeira e de identificação do mundo”, utilizando a tecnologia blockchain para fornecer aos usuários uma forma segura de comprovar sua identidade sem expor dados pessoais sensíveis. No entanto, a sensibilidade dos dados biométricos, como a íris, tem despertado preocupações entre especialistas e usuários.
Apesar das críticas e das incertezas, muitos argentinos optam por escanear suas íris em troca de benefícios financeiros. Miriam Marrero, uma caixa de supermercado de 42 anos, justifica que busca o dinheiro para ajudar um amigo na construção de sua casa. Ulises Herrera, um estudante de 20 anos, revela suas preocupações com a segurança dos dados biométricos, mas ainda assim se submete ao escaneamento pela recompensa econômica.
A Worldcoin se apresenta como uma solução para tempos difíceis, onde indivíduos desesperados por recursos financeiros buscam alternativas inovadoras e arriscadas. Enquanto isso, as investigações sobre a empresa se expandem em diferentes países, em meio a debates sobre privacidade, proteção de dados e identidade digital. Aos olhos de muitos argentinos, a “magia” do escaneamento da íris é um passo necessário em direção a um futuro incerto, mas promissor no mundo das criptomoedas e da tecnologia.