Racismo afeta confiança, conveniência e comunicação nas vacinas, diz ativista; população negra é a mais prejudicada.

O racismo tem um impacto significativo na vacinação e na saúde da população negra. Embora existam diversos fatores que influenciam a decisão de se vacinar, como a confiança nas vacinas, a conveniência de acesso aos postos de vacinação, a complacência em relação aos riscos de não estar protegido, a comunicação clara de informações sobre as vacinas e o contexto sociodemográfico das populações-alvo, o racismo afeta cada um desses pilares.

De acordo com Lúcia Xavier, fundadora da ONG Criola, a população negra enfrenta dificuldades no acesso, na aceitação, no cuidado e na resolutividade no campo da saúde. Xavier afirma que a vacinação é central para a saúde da população negra, mas são justamente essas pessoas que serão afetadas pela queda nas coberturas vacinais. Além de já viverem em condições precárias de saúde e vida, eles estarão mais vulneráveis a doenças e agravos que poderiam ser prevenidos por meio da vacinação.

O racismo se manifesta de diferentes formas no sistema de saúde, desde a falta de informações claras e objetivas oferecidas aos pacientes negros até a desconfiança e a violência obstétrica sofrida por mulheres grávidas. Essas experiências negativas minam a relação de confiança entre os usuários e o serviço de saúde, levando as pessoas a postergarem a busca por cuidados e a desacreditarem nos benefícios da vacinação.

Além disso, a população negra também enfrenta desafios relacionados às condições socioeconômicas, como taxas mais altas de desemprego, presença no mercado informal e longas jornadas de trabalho. Com postos de vacinação abertos em horários limitados e profissionais de saúde receosos em abrir frascos de vacinas para um único paciente próximo ao fechamento do horário de atendimento, muitas oportunidades de vacinação são perdidas.

Evelyn Plácido, enfermeira que trabalhou no Parque Indígena do Xingu, destaca a discriminação enfrentada pelas comunidades indígenas ao tentar acessar serviços de saúde. Muitas vezes, eles são informados de que só podem receber vacinas nas suas aldeias, o que nega o seu direito de serem vacinados em qualquer unidade de saúde. Além disso, a falta de preparo dos profissionais de saúde para lidar com diferenças culturais e sociais afasta ainda mais grupos vulnerabilizados do sistema de saúde.

A falta de sensibilidade e conhecimento sobre as peculiaridades das comunidades quilombolas e ribeirinhas também prejudicou a vacinação contra a COVID-19. Muitos profissionais de saúde não registravam corretamente a vacinação desses grupos, o que exigiu um esforço das próprias comunidades para realizar seu próprio censo vacinal.

A mobilização dessas populações foi fundamental para a construção do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e do Sistema Único de Saúde (SUS), sistemas que permitem o acesso gratuito à vacinação. É necessário fortalecer e reconhecer esse movimento para garantir que essas populações sejam atendidas não apenas na vacinação, mas em todos os aspectos da saúde.

O racismo é uma barreira que precisa ser enfrentada para garantir a igualdade de acesso à vacinação e à saúde para todos. É necessário combater a discriminação e promover a sensibilização e o preparo dos profissionais de saúde para lidar com a diversidade cultural e social das populações. Somente através de medidas concretas será possível garantir a saúde e o bem-estar de todos os cidadãos.

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