Ministério do Trabalho defende salário mínimo para trabalhadores de aplicativo em audiência na Câmara dos Deputados

O secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Francisco Macena, participou de uma audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (4) para discutir a regulamentação do trabalho por aplicativo no Brasil. Durante o evento, Macena defendeu a garantia de que os trabalhadores de aplicativo recebam pelo menos um salário mínimo.

Segundo Macena, por determinação do presidente da República, um grupo de trabalho composto por oito ministérios, duas associações de empresas e representantes de trabalhadores está discutindo a elaboração de um projeto de lei para regulamentar esse tipo de trabalho. Entre os temas em debate estão condições de trabalho, jornada de trabalho, segurança, remuneração e previdência.

Uma das propostas discutidas pelo grupo de trabalho é a necessidade de auxílio-alimentação para os trabalhadores de aplicativo, que seria incluído na composição da remuneração mínima. No entanto, o presidente da Federação dos Trabalhadores Com Aplicativo, Leandro da Cruz, afirmou que os debates com as empresas não avançaram, limitando-se apenas à discussão sobre remuneração.

A reunião na Câmara dos Deputados foi presidida pela deputada Flávia Morais e teve como objetivo criar um projeto de lei que melhore as condições de trabalho para os empregados e viabilize a dinâmica empresarial. A subcomissão permanente, da qual Morais é presidente e o deputado Vicentinho é relator, irá analisar as regras para o trabalho por aplicativos.

O Ministério do Trabalho aguarda o resultado das reuniões do grupo de trabalho do governo. No entanto, caso não haja acordo, Francisco Macena afirmou que será apresentada uma proposta para que o debate ocorra no Congresso.

Durante a audiência, o representante da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia, André Porto, falou sobre uma pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, que aponta que há aproximadamente 1,7 milhão de profissionais de aplicativos no Brasil. Desses, 1,27 milhão são motoristas de aplicativo, sendo que 37% utilizam os aplicativos para complementar a renda. A pesquisa revela ainda que menos da metade dos que têm outro emprego trabalham com carteira assinada, e 64% dos motoristas de aplicativo pretendem continuar trabalhando nessa área.

Os demais profissionais de aplicativo, cerca de 386 mil, são entregadores. Metade deles utiliza os aplicativos para complementar a renda, e um em cada quatro tem outro emprego com carteira assinada. A pesquisa mostra ainda que 8 em cada 10 trabalhadores pretendem continuar trabalhando com aplicativos. A remuneração mensal estimada varia de R$2.900 a R$4.700 para motoristas e de R$1.980 a R$3.000 para entregadores.

André Porto destacou que a flexibilidade e o ganho são as principais características apontadas pelos trabalhadores como importantes, o que deve ser considerado na regulamentação da atividade. Ele ressaltou que a maioria dos trabalhadores pretende continuar trabalhando com aplicativos e que os ganhos mensais são superiores aos observados em pessoas com o mesmo nível educacional.

O procurador do trabalho Renan Bernard Kalil também deu sua opinião durante a audiência, ressaltando a importância de atentar para a forma como as empresas de aplicativos se apresentam no Brasil. Ele destacou que, na Receita Federal, essas empresas se definem como intermediadoras de trabalho e de tecnologia, mas, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, se classificam como empresas de transporte de pessoas e de mercadorias.

Kalil mencionou uma sentença recente de um juiz do trabalho de São Paulo, que reconheceu o vínculo dos motoristas com a Uber, e destacou o controle exercido pelas maiores empresas do setor sobre os trabalhadores por meio das plataformas digitais. Ele citou exemplos como o uso de avaliações dos clientes para distribuir trabalho e aumentar a remuneração média ao longo do dia, além de punições para os motoristas que não obedecem às regras estabelecidas pelas plataformas.

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