Beneficiárias do Bolsa Família em municípios desiguais têm menor risco de morte por câncer de mama, revela estudo da Fiocruz.

Um estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Bahia identificou que mulheres de baixa renda beneficiárias do Bolsa Família que vivem em municípios com alto nível de desigualdade apresentam incidência menor de morte por câncer de mama que as não beneficiárias. O estudo, cujas conclusões foram publicadas na revista científica Jama Network, analisou dados de mais de 20 milhões de mulheres registradas no Cadastro Único do governo federal e apontou que quanto maior a desigualdade de renda nos municípios, maior é o risco de morrer por câncer de mama.

De acordo com a pesquisa, as mulheres de baixa renda que recebem o Bolsa Família tiveram um risco de mortalidade por câncer de mama 17% menor em comparação com as que não recebem o benefício. O estudo utilizou dados do Cadastro Único do governo federal de 2001 a 2015, que inclui mais de 114 milhões de brasileiros com baixa renda, e contou com a colaboração de pesquisadores da Fiocruz Bahia, da Faculdade de Epidemiologia e Saúde da População da London School of Hygiene and Tropical Medicine, do Ubuntu Center on Racism, Global Movements and Population Health Equity da Universidade Drexel, do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.

Os resultados do estudo mostram que a incidência de mortalidade por câncer de mama é maior em municípios com alta segregação de renda, com 8,2 óbitos a cada 100 mil habitantes. Além disso, as mulheres que recebem o Bolsa Família e vivem em cidades mais desiguais têm um risco de morrer por câncer de mama 13% maior que a média, enquanto as que não recebem o benefício e moram nessas cidades têm um risco 24% maior.

A pesquisadora Joanna Guimarães, associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia, destaca a relevância do estudo ao ressaltar que a maioria das pesquisas que avaliam o impacto do Bolsa Família na saúde se concentra em saúde infantil e doenças infecciosas, explorando menos a saúde da mulher. A pesquisa mostrou o resultado de uma política pública, o Bolsa Família, na redução das desigualdades na mortalidade por câncer de mama em mulheres. É possível que isso se deva ao aumento da renda familiar, o que permite maior acesso a medicamentos, alimentação de qualidade e serviços de transporte, possibilitando a busca por serviços preventivos de câncer.

A pesquisadora ainda defende que o estudo tem implicações políticas, pois sugere a inclusão do rastreamento e exame clínico das mamas entre as condicionalidades do Bolsa Família. Conclui-se que essas condicionalidades impõem uma maior utilização dos serviços de saúde, aumentando a detecção precoce e potencialmente reduzindo a mortalidade por câncer de mama.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo