Analistas afirmam que o sucesso do Ceará se deu não apenas pelas ideias adotadas, mas principalmente pelo comprometimento do estado em desenvolver e ajustar as políticas educacionais até que houvesse melhorias significativas na aprendizagem dos alunos. Esse comprometimento tem sido uma lacuna nas administrações educacionais em grande parte do país.
Posteriormente, o ministro da Educação, Camilo Santana, expressou o desejo de transformar essa experiência cearense em uma política educacional nacional. Segundo Fernando Abrucio, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, cinco pilares foram responsáveis pelos resultados obtidos no Ceará: continuidade das políticas educacionais mesmo diante de mudanças de governo, envolvimento de diversos atores, como a sociedade civil, organismos de pesquisa e fundações empresariais, incentivos para competição e cooperação entre escolas, combinação de profissionais políticos e técnicos, e uma parceria sólida entre escolas e secretarias de educação. Esses aspectos foram negligenciados no restante do Brasil, mesmo em estados como São Paulo, que teve governos do mesmo partido por um longo período.
Em Sobral, a revolução educacional teve início no final dos anos 1990 e enfrentou diversas disputas. Uma das primeiras medidas foi a demissão de todos os diretores escolares por indicações políticas, estabelecendo critérios técnicos rigorosos para a escolha de novos gestores. Além disso, a rede municipal adotou um sistema de supervisão e acompanhamento dos gestores e estabeleceu metas, como alfabetizar todas as crianças, reduzir o abandono escolar e eliminar a distorção idade-série no ensino fundamental. Atualmente, Sobral possui um sistema de ensino com currículo sólido, avaliações frequentes, material didático estruturado e formação de professores embasada nesse material.
Todo o progresso feito em Sobral resultou na criação do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), em 2007, que posteriormente se tornou uma política nacional. O Paic acelerou a aprendizagem dos estudantes e recebeu investimento de R$ 2,6 bilhões. Desde então, 15 outros estados já criaram programas inspirados no Paic para suas redes de ensino.
No entanto, especialistas afirmam que replicar o sucesso de Sobral em todo o Brasil não será uma tarefa fácil, especialmente considerando o cenário de profunda desigualdade social agravado pela pandemia de Covid-19. Além das boas práticas, será necessário aumentar o investimento na educação. Atualmente, o Brasil está entre os países que menos investem na educação básica, destinando apenas R$ 17,7 mil por aluno anualmente. Esse baixo investimento reflete também nos salários dos professores, um dos motivos pelos quais o país está mal colocado no ranking da OCDE.
Apesar dos desafios, a política educacional de Sobral tem sido um exemplo para outras cidades e estados brasileiros. O sucesso alcançado pela cidade no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) tem chamado a atenção, e outras redes estaduais têm conseguido se destacar em alguns aspectos, como Espírito Santo, Pernambuco e Piauí, assim como algumas prefeituras, como Jundiaí e Teresina.
Diante desse cenário, é essencial que sejam pensadas estratégias adequadas para enfrentar a desigualdade social e aumentar os investimentos na educação. Além disso, é necessário um compromisso contínuo com as políticas educacionais, como aconteceu em Sobral, para que o Brasil possa avançar na melhoria da qualidade da educação.