Uso inapropriado de dispositivos digitais por crianças e adolescentes aumenta índices de ansiedade, depressão e outros problemas de saúde

O uso excessivo ou inadequado de dispositivos digitais por crianças e adolescentes tem se mostrado uma preocupação crescente devido aos diversos impactos negativos que podem causar. Segundo o secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), João Brant, esses problemas estão relacionados ao aumento dos índices de ansiedade e depressão, distúrbios de atenção, atraso no desenvolvimento cognitivo e da linguagem, miopia, sobrepeso, problemas de sono, riscos de abuso e vitimização sexual, ameaças à privacidade e de uso de dados pessoais, além do risco de vícios em jogos eletrônicos e uso de aplicativos. Diante desse cenário preocupante, o governo federal decidiu iniciar uma consulta pública para a elaboração de um guia com orientações sobre o uso de telas e aparelhos digitais.

De acordo com Brant, o atual modelo de negócios das plataformas digitais contribui para o agravamento desse problema, uma vez que são projetados para maximizar o engajamento e o tempo de uso dos dispositivos, muitas vezes desassociados do bem-estar das crianças e adolescentes. A consulta pública, que ficará disponível por 45 dias na plataforma Participa + Brasil, tem como objetivo coletar informações e opiniões para a elaboração do guia, que contará com a participação de um grupo de trabalho formado por especialistas no assunto e levará cerca de um ano para ser concluído.

A secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, destaca a importância de uma mobilização da sociedade para lidar com os efeitos adversos na saúde física e mental das crianças decorrentes do uso não supervisionado e não cuidado de dispositivos digitais. A iniciativa do governo federal visa envolver especialistas de diversas áreas, órgãos públicos, iniciativa privada, organizações da sociedade civil, pais, mães, familiares, responsáveis, profissionais da educação, saúde e assistência, além das próprias crianças e adolescentes, para debater e propor soluções para esse problema.

O Brasil é um dos países em que se passa mais tempo utilizando smartphones, telas e dispositivos eletrônicos. Segundo uma pesquisa recente, os brasileiros passam em média nove horas diárias utilizando a internet, perdendo apenas para as Filipinas nesse quesito. A pesquisa também mostra que o uso de dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes é expressivo, sendo o celular o dispositivo mais utilizado por eles.

Ainda não se sabe ao certo quais serão os efeitos de longo prazo de uma infância e adolescência intensamente mediadas por plataformas digitais, jogos e aplicativos. No entanto, já há diversas evidências de que o cenário atual é preocupante. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda limites de tempo de tela para cada faixa etária, desde nenhum uso de telas para crianças menores de 2 anos até três horas por dia para adolescentes.

Diante desse cenário, a intenção do governo federal é fornecer recursos e estratégias para promover o uso consciente de dispositivos digitais por crianças e adolescentes, além de capacitar pais, responsáveis e professores para supervisionar e orientar seu uso. A iniciativa envolve diversos ministérios, representantes da academia e organizações da sociedade civil, reforçando a importância de priorizar os direitos das crianças e adolescentes acima dos interesses comerciais das empresas.

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