Hormônios de crescimento extraídos de cadáveres podem ter transmitido doença de Alzheimer

Um trágico caso de experiência inadvertida está sendo revelado, à medida que um novo estudo aponta para um efeito indesejado de tratamentos hormonais hipofisários recebidos por milhares de pessoas ao redor do mundo. Em torno de 1985, a descoberta de que essas terapias poderiam transmitir os príons causadores da letal doença de Creutzfeldt-Jakob, semelhante à doença da vaca louca, levou à interrupção desse tipo de tratamento. No entanto, um estudo recente feito por uma equipe da University College London apresenta agora a possibilidade de transmissão da doença de Alzheimer devido a esses tratamentos.

A preocupação com a descoberta é justificada pelo elevado número de pacientes que receberam hormônios de crescimento extraídos das glândulas pituitárias de cadáveres até meados da década de 1980. Segundo o estudo, cinco pessoas no Reino Unido teriam contraído a doença de Alzheimer devido a esses tratamentos, o que seria uma primeira ocorrência do tipo.

A vinculação entre os hormônios hipofisários e a doença de Alzheimer é de grande importância, uma vez que se estima que cerca de 55 milhões de pessoas no mundo sofrem de demência, muitas vezes associada à doença de Alzheimer. Ainda não existe um tratamento eficaz para a doença, o que torna a compreensão dos mecanismos por trás dela fundamental.

O estudo liderado pelo neurologista John Collinge constata que os hormônios de crescimento de cadáveres transmitiram beta-amiloides suspeitas, uma das proteínas associadas ao desenvolvimento da doença de Alzheimer, a pacientes que receberam esse tipo de terapia. Além disso, a equipe aponta que as placas beta-amiloides encontradas no cérebro de pacientes que faleceram da doença de Creutzfeldt-Jakob após receberem os hormônios de crescimento evidenciaram a relação entre os tratamentos e o desenvolvimento da demência.

A constatação dos pesquisadores é de grande impacto, uma vez que coloca em pauta a segurança de procedimentos cirúrgicos invasivos e levanta a necessidade de rever as medidas em vigor para evitar a transmissão acidental da doença de Alzheimer. O estudo também alerta para a necessidade de descontaminação adequada de instrumentos utilizados em neurocirurgias, visando a prevenção da transmissão de patologias como as relacionadas aos hormônios de crescimento de cadáveres.

No entanto, cabe ressaltar que o próprio neurologista John Collinge tranquiliza a população ao afirmar que o Alzheimer não é contagioso e que não existiria risco em lidar com pacientes em casa ou em lares de idosos. Segundo ele, o estudo representa uma oportunidade única para esclarecer questões relacionadas à doença de Alzheimer, que de outra forma seriam impossíveis de desvendar.

Os especialistas destacam a necessidade de investigações adicionais para compreender melhor as relações entre os tratamentos hormonais e o desenvolvimento de demências, e ressaltam a importância dos avanços científicos para a compreensão e tratamento da doença de Alzheimer. A descoberta levanta questões importantes sobre a segurança e eficácia de tratamentos, além de reforçar a relevância da pesquisa científica para o avanço da medicina e da compreensão de doenças complexas como o Alzheimer. A sociedade também deve estar atenta aos desdobramentos das descobertas científicas para promover a prevenção e o tratamento efetivo de patologias, visando a saúde e bem-estar da população.

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